
Donald Trump tem usado o poder político e econômico de sua presidência para atacar diretamente a imprensa americana. Segundo reportagem do The Guardian, acordos milionários feitos por grandes empresas de mídia com o presidente mostram como a liberdade de imprensa está sendo colocada em risco nos Estados Unidos, especialmente em um momento em que muitos veículos enfrentam dificuldades financeiras.
Um dos exemplos é o da Paramount, dona da CBS News. A empresa pagou US$ 16 milhões a Trump, como parte de um acordo relacionado a uma entrevista com a então vice-presidente Kamala Harris, exibida pelo programa 60 Minutes durante as eleições de 2024.
Trump acusou a CBS de editar a entrevista de forma tendenciosa, sem apresentar provas. Apesar de especialistas considerarem a edição normal, a empresa decidiu pagar a quantia e encerrar o processo. O pagamento foi feito na forma de doação à biblioteca presidencial de Trump.
Esse acordo ocorreu no mesmo período em que a família Redstone, que controla a Paramount, tenta vender a empresa para o estúdio Skydance por US$ 8 bilhões. Para isso, precisa do aval do governo Trump, o que levanta suspeitas de favorecimento.
A senadora Elizabeth Warren classificou o caso como “suborno escancarado” e cobrou uma investigação. Bernie Sanders também criticou a situação e disse que o episódio é mais um passo na direção do autoritarismo.
Casos semelhantes ocorreram com outras empresas. A Disney, dona da ABC News, também pagou US$ 16 milhões para encerrar um processo de Trump sobre comentários de um apresentador a respeito de uma condenação por abuso sexual. Até veículos menores estão sendo alvos: o Des Moines Register, jornal de Iowa, foi processado após publicar uma pesquisa eleitoral que desagradou Trump.

Além disso, a atual administração ameaça processar a CNN por reportagens que informam sobre aplicativos de alerta a operações de imigração. A secretária de segurança interna, Kristi Noem, declarou que o governo estuda ações criminais contra a emissora, alegando que ela incentiva pessoas a escapar da fiscalização.
O Guardian relata que esses ataques fazem parte de uma estratégia mais ampla: Trump acusa a mídia tradicional de ser inimiga do povo e busca enfraquecê-la enquanto fortalece veículos alinhados ao seu governo. A Associated Press, por exemplo, foi banida da Casa Branca após manter o uso do termo “Golfo do México”, contrariando ordem do presidente de adotar “Golfo da América”.
No lugar da AP, passaram a cobrir o governo grupos recém-criados, sem histórico de jornalismo independente e com perguntas sempre favoráveis a Trump.
O avanço contra a imprensa coincide com uma crise econômica no setor. Diversos jornais regionais e plataformas digitais, como BuzzFeed, HuffPost e Vice, estão em declínio. Enquanto isso, a Fox News – que tem postura abertamente pró-Trump – segue em crescimento.
O professor Bob Thompson, da Universidade de Syracuse, ouvido pelo Guardian, afirma que boa parte dos veículos jornalísticos está hoje subordinada a grandes corporações que priorizam lucros e acordos regulatórios, e não o dever de informar. Ele resume a situação: “Estamos vendo o jornalismo americano à beira do colapso – e Trump está empurrando”.