Pai de seis filhos americanos, brasileiro deixa os EUA por medo de deportação

Atualizado em 6 de julho de 2025 às 11:09
Frilei Brás se despede da família nos EUA antes de embarcar de volta ao Brasil – Foto: The Boston Globe

Frilei Brás decidiu deixar os Estados Unidos após quase duas décadas vivendo no país. Pai de seis filhos americanos e casado com uma brasileira, ele se apresentou voluntariamente às autoridades migratórias em maio, como fazia todos os anos. No entanto, desta vez, recebeu uma ordem de deportação com prazo de apenas 15 dias para sair. “Fui obrigado a acatar e comprei a passagem. Não tinha escolha”, afirmou Brás, que hoje vive em Central de Minas (MG).

O mineiro chegou aos EUA em 2005 e mantinha uma vida ativa na comunidade brasileira. Tinha empresa registrada, pagava impostos, liderava um programa de rádio e mantinha uma escolinha de futebol. Em 2018, foi notificado pelas autoridades, mas continuava em liberdade por não ter antecedentes criminais. Apesar disso, com a política migratória do governo Trump, passou a ser pressionado a sair do país. “Na sala, colocaram tornozeleira e disseram que eu deveria me considerar sortudo por não ser levado preso”, contou.

Durante o processo, Brás relatou que as informações dos agentes eram confusas. “Disseram que eu teria dois meses, depois mudaram para 15 dias”, relatou. Um dos momentos mais difíceis foi a despedida da família. “Reuni todos na sala de casa para uma oração antes de ir para o aeroporto”, disse.

No voo de volta, Brás teve uma crise de choro. “Não sei quando vou ver minha família de novo”, desabafou. Sua esposa, que tem problemas de saúde, e os filhos, com idades entre 1 e 19 anos, continuam nos EUA e recebem ajuda de amigos enquanto ele tenta se reestruturar no Brasil. “Um agente ameaçou deportar todo mundo, mas eles são cidadãos americanos. Foi uma pressão psicológica enorme”, relatou.

Segundo Brás, o tratamento dado aos imigrantes é impessoal e baseado em metas. “Disseram que têm que fazer 3 mil prisões por dia. Não importa sua história, você vira apenas um número”, criticou. Ele afirma que muitos brasileiros estão optando por voltar ao Brasil diante do medo e da insegurança. “Conheço gente que comprou passagem por conta própria. É uma crise de ansiedade coletiva”, disse.