“Tenho coisa mais importante para comentar do que isso. Esse país tem lei, tem regra e tem um dono, chamado povo brasileiro. Portanto, dê palpite na sua vida, e não na nossa”, diz Lula, sobre Trump ter saído em defesa de Jair Bolsonaro.
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— GloboNews (@GloboNews) July 7, 2025
POR REYNALDO ARAGON, jornalista e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos em Comunicação, Cognição e Computação (NEECCC) e do INCT em Disputas e Soberania Informacional
Ao atacar abertamente as instituições brasileiras em defesa de Bolsonaro, Trump dá ao governo Lula a oportunidade de transformar cautela em combate.
A chance é agora — ou o governo reage, ou entrega 2026. A extrema-direita global tirou a máscara. Trump defendeu Bolsonaro, atacou a Justiça brasileira e entrou de sola. Lula tem, pela primeira vez, um inimigo externo claro para mirar — e uma narrativa de força para usar.
Já não é possível fingir que estamos diante de um jogo democrático convencional. A extrema-direita global declarou guerra. O Brasil precisa se defender.
A postagem de Trump, um dia após o sucesso diplomático da Cúpula do BRICS no Rio, não foi acidental. Foi um recado direto. Ao afirmar que Bolsonaro é vítima de uma “caça às bruxas”, Trump replicou o mesmo script que utilizou para sabotar as instituições norte-americanas.
Agora, exporta esse roteiro para o Brasil, de forma explícita. Não se trata de solidariedade pessoal. Trata-se da defesa de um projeto de dominação transnacional que sente sua posição ameaçada.
Até aqui, Lula vinha optando por uma postura de moderação. Buscava preservar pontes, evitar confrontos diretos, sustentar a institucionalidade. Essa estratégia, embora compreensível, esvaziava a base popular e deixava o governo vulnerável.
O cenário muda radicalmente com o ataque público vindo de fora. Agora está claro quem é o inimigo. E isso, embora perigoso, é também uma oportunidade para quem estiver pronto para agir.
O governo tem a chance de transformar essa tensão em narrativa de força. Trump não reagiu por impulso. Ele respondeu ao fortalecimento da soberania brasileira, ao avanço da política externa ativa e à ameaça real de um Brasil que escapa da tutela norte-americana. Esse gesto precisa ser nomeado com precisão. É interferência estrangeira. É sabotagem. É guerra híbrida. Deve ser tratado como tal.
A resposta de Lula foi correta. A de Gleisi Hoffmann foi ainda mais incisiva. Mas é preciso ir além. Não basta responder. É hora de disputar o sentido dos fatos, expor a engrenagem golpista, mobilizar a sociedade. O gesto de Trump precisa ser tratado como ponto de inflexão.
Ele permite a construção de uma nova narrativa de enfrentamento. E sinaliza que o medo de parecer radical precisa ser abandonado. Porque, neste momento, radical é fingir que a democracia continua intacta.
O governo tem diante de si um momento raro. Ou aproveita para virar o jogo, ou continuará sangrando até 2026. Não haverá segunda chance. Trump mostrou a cara. O Brasil precisa agora mirar com precisão. E reagir com toda a força da democracia.