EXCLUSIVO: Deputada dos EUA diz que Trump usa tribunais para intimidar Moraes e proteger golpistas

Atualizado em 8 de julho de 2025 às 18:04
A deputada democrata dos EUA Anna Eskamani

A crescente articulação internacional do fascismo, liderada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e que busca intervir na soberania de nações como o Brasil, tem gerado apreensão entre políticos progressistas nos Estados Unidos.

Nos últimos dias, Trump defendeu publicamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e atacou o Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro. Paralelamente, a Justiça americana tenta novamente sancionar o ministro Alexandre de Moraes, enquanto a Casa Branca monitora as ações do BRICS para evitar que seus membros se fortaleçam em questões comerciais e diplomáticas.

Em entrevista exclusiva ao DCM, a deputada Anna Eskamani, membro da Câmara dos Representantes da Flórida pelo Partido Democrata, comentou o cenário. Eskamani, que em 2018 tornou-se a primeira mulher iraniano-americana eleita para o Legislativo daquele estado. Ela anunciou sua candidatura a prefeita de Orlando nas eleições de 2027 .

DCM – A Justiça da Flórida emitiu um novo pedido de intimação contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, acusando-o de violar leis dos EUA por pedir bloqueios de perfis nas redes sociais. Companhias ligadas ao presidente Trump e a plataforma de vídeos Rumble afirmam que Moraes censura conteúdos nestas redes no Brasil. Qual sua análise a respeito dessa tentativa de intervenção do judiciário dos EUA no poder da Suprema Corte do Brasil?

Anna Eskamani Esse episódio é tão bizarro quanto alarmante. A decisão de um tribunal da Flórida de intimar o ministro Alexandre de Moraes — com base em uma ação movida pela Trump Media e pela plataforma Rumble — representa um uso perigoso e politizado do sistema judicial americano. No fundo, essa ação parece uma tentativa de intimidar um juiz estrangeiro que está liderando investigações essenciais sobre a tentativa de golpe no Brasil, investigações que implicam aliados de Donald Trump, incluindo Jair Bolsonaro e seus apoiadores.

Isso não é um processo jurídico legítimo. É uma manobra política usando os tribunais, ecoando táticas autoritárias: manipular o Judiciário não para fazer valer a lei, mas para assediar quem a aplica. Também representa uma intromissão absolutamente desrespeitosa e inadequada nos processos soberanos de outro país.

O ministro Alexandre de Moraes está cumprindo seu papel, responsabilizando indivíduos por crimes contra a democracia. Se os tribunais dos EUA se prestarem a virar ferramentas de retaliação política contra juízes estrangeiros que estão protegendo suas constituições, estaremos entrando em um território extremamente perigoso.

É importante deixar claro: nenhum juiz da Flórida tem jurisdição sobre um ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro atuando em seu país. Esse episódio ameaça a independência judicial e as normas internacionais — e deve ser rejeitado de forma rápida e categórica.

Donald Trump saiu em defesa de Jair Bolsonaro, que responde a um processo por tentativa de golpe de Estado no Brasil. Em publicação feita nesta segunda-feira (7), Trump classificou a ação das autoridades brasileiras como “uma coisa terrível” e afirmou que o ex-presidente brasileiro é vítima de uma “caça às bruxas”. Qual o impacto efetivo dessa declaração e até que ponto ela pode interferir no curso do julgamento?

Obrigado por trazer esse tema tão relevante e oportuno.

Os comentários de Donald Trump refletem um padrão profundamente preocupante: sua constante aliança com figuras autoritárias e sua disposição em enfraquecer instituições democráticas quando isso serve a seus interesses políticos. Ao chamar a responsabilização jurídica de Jair Bolsonaro pelo seu suposto envolvimento nos ataques às instituições democráticas brasileiras em 8 de janeiro de “caça às bruxas”, Trump não apenas repete a mesma retórica que usa para desacreditar seus próprios processos legais, mas também interfere nos processos soberanos de um país democrático.

A resposta do presidente Lula a Trump foi firme, equilibrada e necessária. O Brasil é uma democracia soberana, com instituições independentes e uma ordem constitucional que enfrentou ameaças reais de dentro. Os julgamentos relacionados à tentativa de golpe não são teatro político — são atos essenciais de responsabilização para preservar o Estado de Direito, assim como deveriam ser nos Estados Unidos.

Esse episódio nos lembra da importância global de defender a democracia. Seja em Brasília ou em Washington, ninguém — nem um ex-presidente, nem um aliado político — está acima da lei. Tentar deslegitimar investigações legítimas sob o pretexto de perseguição política faz parte de um manual perigoso que já conhecemos, e não podemos ignorar isso.

Existem pressões da extrema-direita brasileira nos EUA, com apoio do senador Marco Rubio, para que os EUA intimidem juízes do Supremo Tribunal brasileiro e os sancionem. A Justiça norte-americana pode ceder a essa pressão e penalizar magistrados brasileiros?

Sem dúvida, essa aliança crescente entre extremistas da extrema-direita brasileira e políticos dos EUA, como Marco Rubio, é perigosa. A tentativa de sancionar ministros do Supremo Tribunal Federal do Brasil estabelece um precedente profundamente preocupante. Uma coisa é criticar atores internacionais por violações de direitos humanos. Outra, bem diferente, é usar ferramentas da política externa americana para perseguir o Judiciário de um país democrático simplesmente porque está responsabilizando extremistas.

O Supremo brasileiro teve papel fundamental na defesa da democracia após a tentativa de golpe de 8 de janeiro em Brasília — assim como o nosso sistema reagiu após o 6 de janeiro. Para os Estados Unidos cogitarem sanções contra um juiz por fazer seu trabalho não só desrespeita a soberania brasileira, como também sinaliza para extremistas do mundo todo que eles podem manipular o poder americano a seu favor. Isso não é comportamento de democracias. Deveríamos fortalecer as instituições democráticas globais, não instrumentalizar nossa influência para agradar movimentos autoritários — sejam aqui ou lá fora.

Donald Trump, presidente dos EUA. Foto: reprodução

Como o ambiente político na Flórida reage à visita e eventual estada de Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, que pode ser condenado por tentativa de golpe no Brasil ainda este ano?

A Flórida está se tornando cada vez mais o ponto de encontro de uma rede transnacional de extrema-direita com influência desproporcional sobre parlamentares e ativistas conservadores. Mais do que uma curiosidade paralela, a campanha de influência de Eduardo Bolsonaro na Flórida aponta para um padrão emergente: usar ferramentas políticas dos EUA para pressionar instituições democráticas no exterior, tudo isso a partir daqui, do nosso próprio estado.

Em que “página da história” está a relação diplomática entre EUA e Brasil?

A relação diplomática entre Estados Unidos e Brasil está em um momento decisivo. Embora os dois países tenham historicamente mantido fortes laços econômicos e estratégicos — com comércio e cooperação em segurança — as tensões políticas recentes estão fragilizando essa base. O Brasil, sob o presidente Lula, vem afirmando sua soberania e protagonismo global, especialmente por meio de fóruns multilaterais como os BRICS e o G20 — enquanto setores da extrema-direita americana, incluindo Donald Trump e o senador Marco Rubio, interferem nos assuntos internos do Brasil, inclusive atacando ministros do STF.

Esse tipo de interferência ameaça não apenas as normas diplomáticas, mas também a estabilidade de uma relação baseada no respeito mútuo. Como parlamentar, acredito que devemos priorizar uma diplomacia que fortaleça a democracia e os direitos humanos, e não uma movida por ideologia ou retaliação. O futuro da relação EUA–Brasil precisa focar na cooperação para enfrentar desafios comuns como a crise climática, a segurança regional e o desenvolvimento econômico inclusivo — e não em alimentar guerras culturais internacionais.

Qual é a sua percepção sobre o presidente Lula e o governo brasileiro?

Vejo o presidente Lula e seu governo como uma força decisiva na reconstrução da trajetória democrática e global do Brasil. Lula deixou claro seu compromisso em reconstruir a base social do país — reativando programas de combate à pobreza como o Bolsa Família, promovendo grandes investimentos em infraestrutura e fortalecendo as instituições democráticas após a era Bolsonaro.

No cenário internacional, ele posiciona o Brasil como um líder não alinhado e multilateral — defendendo a diplomacia climática, estabelecendo parcerias no âmbito dos BRICS e do G20, e reafirmando a capacidade de decisão soberana, independente das diretrizes dos Estados Unidos.

No fim das contas, vejo Lula como um estadista capaz, que está revitalizando a democracia e a equidade social no Brasil — embora seu governo siga enfrentando desafios econômicos e uma forte polarização política. O caminho adiante exigirá governança consistente, reconstrução da confiança pública e habilidade para equilibrar ambições progressistas com uma implementação pragmática.

Donald Trump tem adotado uma postura cada vez mais rígida em relação à imigração. Recentemente, as restrições impostas pelo governo norte-americano impediram a entrada do atleta brasileiro de tênis de mesa, Hugo Calderano, nos Estados Unidos para a disputa de um torneio. Como você avalia essas medidas?

Sou totalmente contra isso. Negar a entrada a um atleta internacional como Hugo Calderano é absurdo e reflete o quanto nossas políticas de imigração se tornaram extremas e disfuncionais sob Trump. Deveríamos receber talentos globais, não fechar nossas portas para eles. Esse é mais um exemplo de como o medo e a política estão sendo colocados acima do bom senso e da justiça.

E quanto à proposta conhecida como “Alcatraz dos Jacarés” — um projeto que prevê a construção de uma prisão de segurança máxima em uma ilha isolada para abrigar líderes de facções criminosas? Como você avalia essa ideia, considerada por muitos especialistas uma solução medieval e ineficaz para o combate ao crime organizado?

O “Alcatraz dos Jacarés” não é apenas uma má ideia — é uma falha moral. Confinar imigrantes em um campo de detenção remoto no meio do pântano, longe de ajuda jurídica e de suas famílias, é cruel por natureza. Foi feito para desumanizar e fazer essas pessoas desaparecerem, e precisamos combatê-lo em todas as frentes.

Enfrentamos isso jogando luz sobre o assunto — por meio da imprensa, pressão pública e mobilização popular. Exigimos transparência das agências, denunciamos a corrupção por trás dos contratos que beneficiam doadores políticos. E, se necessário, recorremos à Justiça — o que já estamos nos preparando para fazer após termos sido impedidos de visitar o local como autoridades eleitas.

Também nos organizamos localmente. Isso não é apenas um problema federal — deputados estaduais, xerifes e agências da Flórida são cúmplices. Então, marcamos presença, protestamos, pressionamos por mudanças e votamos. Essa proposta não reflete quem somos como estado ou como nação, e vamos garantir que não se torne parte da nossa história.

A rivalidade crescente entre Donald Trump e Elon Musk, somada à  criação de um novo partido liderado por Musk, pode desestabilizar o cenário político norte-americano ou enfraquecer a administração Trump?

O drama entre Trump e Musk pode dominar os noticiários, mas não devemos confundi-lo com uma mudança política real. No máximo, isso mostra o quanto nossa política foi sequestrada por bilionários e personalidades, e não por ideias e pessoas de verdade. Um conflito entre Trump e Musk pode até causar fissuras na extrema-direita, mas, a menos que isso leve a reformas estruturais — como tirar o dinheiro da política ou restaurar os direitos ao voto —, não vai consertar o que está quebrado na nossa democracia.

No melhor cenário, isso pode enfraquecer a influência de Trump a curto prazo. No pior, é só mais uma distração enquanto questões reais — como saúde, moradia e clima — seguem sem solução. O que precisamos não é de mais um partido movido a vaidade e ego. Precisamos de movimentos populares e políticas ousadas que sirvam às famílias trabalhadoras, não apenas aos super-ricos.

Os integrantes da Suprema Corte dos EUA

O domínio de Donald Trump sobre a Suprema Corte dos Estados Unidos, durante seu mandato, levanta preocupações sobre a concentração de poder. Esse cenário representa um risco autoritário ou ainda há mecanismos institucionais capazes de equilibrar e conter essa influência no sistema judiciário norte-americano?

Quando um presidente, especialmente alguém tão extremo como Donald Trump, molda a Suprema Corte por uma geração, isso representa sim uma ameaça à nossa democracia. Já estamos vendo as consequências, desde ataques aos direitos reprodutivos até retrocessos nos direitos de voto, na proteção aos trabalhadores e nas leis ambientais. Não se trata apenas de conservadorismo — é ideológico, sem controle e fora de sintonia com a maioria dos americanos.

É uma ditadura? Talvez não pela definição formal, mas é autoritário em espírito. E se não agirmos, o prejuízo será duradouro.

Mas sim, há maneiras de reagir. Podemos expandir a Corte para restaurar o equilíbrio, estabelecer mandatos limitados para que ninguém tenha poder vitalício, aprovar reformas éticas para responsabilizar os juízes e eleger líderes comprometidos com a democracia e o Estado de Direito.

Este momento exige urgência — mas também estratégia. A Suprema Corte não está fora do alcance do povo, e a luta para restaurar a justiça está longe de terminar.

Você acredita que Trump poderia eventualmente sofrer impeachment?

Infelizmente, isso já foi tentado antes, e as opções para removê-lo antes de 2028 parecem muito limitadas.

E Trump passa o cargo em 2028 ou há risco de um golpe de Estado?

Sempre há esse risco; Donald Trump não é confiável, e seu desejo por poder e controle não tem limites.

Há poucos dias foram implementados cortes sociais considerados os maiores da história recente dos Estados Unidos, afetando programas essenciais de assistência e apoio às camadas mais vulneráveis da população. Quais foram os impactos dessas medidas na sociedade americana?

Esses cortes massivos não têm a ver com equilibrar o orçamento — têm a ver com transferir riqueza e poder. Os maiores cortes sociais da história dos EUA destruíram programas dos quais as famílias trabalhadoras dependem: saúde, moradia, assistência alimentar, educação e mais. Enquanto isso, os benefícios fiscais para os ultra-ricos e grandes corporações só aumentam.

É uma estratégia deliberada para desmontar a rede de proteção social e privatizar tudo, colocando o lucro acima das pessoas. Esses cortes afetam os mais vulneráveis: crianças, idosos, pessoas com deficiência e todos que lutam para sobreviver. E estão sendo promovidos pelos mesmos políticos que se dizem “pró-família” e “pró-vida” enquanto retiram os programas que ajudam essas famílias a viver.

Deveríamos estar investindo nas pessoas, não punindo-as. É esse tipo de liderança que eu defendo todos os dias.

Sendo a primeira mulher iraniano-americana no Legislativo dos Estados Unidos, como você avalia e enfrenta a escalada da violência do Estado de Israel contra o povo iraniano, especialmente diante do financiamento e apoio dos EUA a essas ações?

Como filha de imigrantes iranianos e a primeira mulher iraniano-americana eleita para qualquer legislativo estadual nos Estados Unidos, eu carrego o peso desse momento de forma pessoal e política. A crescente violência entre Israel e Irã — e o impacto sobre as pessoas comuns — é devastadora. Estou profundamente preocupada com a contínua escalada e com o impacto da ajuda militar dos EUA quando isso contribui para a perda de vidas e para a desestabilização, especialmente de civis inocentes.

O povo iraniano, como todos os povos, merece viver em paz, com dignidade e autodeterminação. Isso inclui estar protegido da violência da guerra e de regimes autoritários. Sempre defendi a diplomacia em vez da destruição e acredito que os EUA precisam reafirmar seu compromisso com a redução de tensões, transparência e direitos humanos internacionais. Isso inclui fiscalizar como os nossos impostos são usados no exterior e centrar nossa política externa na paz, não na provocação.

Também quero reconhecer a dor profunda sentida pela comunidade iraniano-americana. Muitos de nós temos família na região. Muitos de nós estamos assistindo nossos entes queridos viverem sob ameaça — não apenas de ataques externos, mas também de repressão interna. Acredito que é possível se opor à guerra e ao autoritarismo em todas as suas formas, ao mesmo tempo em que nos solidarizamos com os afetados. Meu ativismo sempre refletirá esse compromisso duplo com a paz e a justiça.

Na sua primeira eleição, você conquistou 57% dos votos contra o candidato republicano do seu distrito. Como avalia essa vitória expressiva e qual foi seu significado político?

Quando fui eleita em 2018, não foi apenas uma vitória pessoal — foi um avanço impulsionado pelas pessoas. Disputei como candidata pela primeira vez, filha de imigrantes iranianos da classe trabalhadora e uma mulher progressista em um distrito que era controlado por republicanos. Não aceitamos um centavo de grandes corporações e batemos de porta em porta com uma mensagem baseada em justiça, transparência e oportunidades para todos.

Vencer com 57% dos votos enviou um recado claro: nossa comunidade estava pronta para uma liderança corajosa e inclusiva. Isso provou que, quando nos organizamos, ouvimos e lideramos com nossos valores, podemos vencer — mesmo em lugares considerados perdidos. Aquela vitória pavimentou o caminho para um novo tipo de política na Flórida — uma que não joga pelo seguro, mas que luta de verdade pelas pessoas comuns.

E não paramos desde então. A cada dia desde aquela eleição, levo essa mesma energia para nosso trabalho — enfrentando o extremismo, entregando resultados reais para nossa comunidade e ajudando outras pessoas a se levantarem e concorrerem a cargos públicos também.

A deputada democrata Anna Eskamani

Como é o cotidiano de trabalho para uma representante de minoria na Câmara dos Deputados?

Ser minoria na Câmara da Flórida significa remar contra a corrente o tempo todo, especialmente no ambiente político atual, onde o partidarismo extremo costuma silenciar os debates reais. Como progressista, mulher não branca e filha de imigrantes iranianos, muitas vezes sou uma das poucas vozes na sala questionando o status quo. Isso pode ser solitário — mas também é um lugar de propósito.

Todos os dias, entro no Capitólio Estadual sabendo que não estou apenas representando meu distrito, mas também incontáveis floridianos que se sentem ignorados, invisíveis ou deixados para trás. O trabalho pode ser frustrante — leis prejudiciais às nossas comunidades são aprovadas, e soluções sensatas são bloqueadas por razões políticas. Mas aprendi a usar todas as ferramentas disponíveis: discursar no plenário, organizar protestos, acionar a imprensa e dialogar diretamente com as pessoas.

Nem sempre temos os votos, mas temos nossas vozes e orgulho de levar essas batalhas também para os tribunais estaduais. E fiz da minha missão usar essa plataforma para elevar outras pessoas, combater a desinformação e construir alianças que durem mais do que qualquer legislatura. Mesmo na minoria, estamos plantando as sementes da mudança. É isso que me mantém firme.

Pode detalhar sua plataforma de políticas públicas, seu trabalho em defesa das minorias e suas perspectivas para o futuro da política nos Estados Unidos?

Minha plataforma é baseada em equidade, justiça e oportunidades para todos. Luto por acesso universal à saúde, moradia acessível, escolas públicas de qualidade, ar e água limpos e um governo que funcione para as pessoas trabalhadoras — e não só para os ricos e bem-conectados. Como filha de imigrantes iranianos e a primeira iraniano-americana eleita para qualquer legislativo estadual no país, carrego na pele a experiência do que é ser marginalizada.

Por isso, tenho priorizado legislações para eliminar a pobreza, fortalecer a educação pública, responsabilizar grandes corporações, proteger imigrantes, ampliar o direito ao voto, defender a comunidade LGBTQ+ da Flórida e garantir liberdade reprodutiva. Também tenho combatido disparidades raciais na saúde, na educação e no sistema de justiça criminal.

Minhas expectativas para a política americana são ambiciosas, mas realistas: quero um país onde os líderes sejam responsabilizados, onde a democracia seja inclusiva e participativa e onde as políticas públicas sejam guiadas pela compaixão, pelos dados e pela vivência das pessoas comuns. Precisamos agora, mais do que nunca, de lideranças corajosas, populares e comprometidas — e eu pretendo fazer parte dessa transformação.

Você será candidata à prefeitura de Orlando em 2027?

Sim, serei candidata à prefeitura de Orlando em 2027. Formalizei minha candidatura em 16 de dezembro de 2024, tornando-me a primeira concorrente na disputa pela cadeira, após o anúncio do prefeito Buddy Dyer de que não tentará a reeleição. Desde então, nosso movimento de base vem ganhando forte impulso — incluindo um evento de lançamento no histórico Beacham Theatre, em fevereiro, que reuniu 650 apoiadores e destacou prioridades como transporte público acessível, moradia popular, apoio a pequenos negócios e soluções para a população em situação de rua.

Já arrecadamos mais de US$ 500 mil em doações iniciais, evidenciando o caráter comunitário da nossa campanha. Também batemos na porta de mais de 5.000 casas — e contando. Estou animada para levar essa visão de uma Orlando mais justa, sustentável e centrada nas pessoas para a próxima etapa.

 

Thiago Suman
Jornalista com atuação em rádio, TV, impresso e online. É correspondente do Daily Mail, da Inglaterra, apresentador do DCMTV e professor de filosofia e sociologia, além de roteirista de cinema e compositor musical premiado em festivais no Brasil e no mundo