
A deputada federal bolsonarista Julia Zanatta (PL-SC) expôs publicamente o rosto e o perfil do Instagram de um estagiário do site catarinense ND+ que publicou uma reportagem com declarações xenófobas feitas por ela.
Em uma live, a parlamentar atacou o estudante de Jornalismo da UFSC, chamando-o de “canalhinha”, “meliante” e afirmando que ele tem “cara de refugiado argentino”.
A reportagem foi publicada no dia 1º, após o jovem entrevistar a deputada sobre os dados do Censo 2022, que mostram Santa Catarina como o principal destino de imigrantes no Brasil. Na ocasião, Zanatta declarou que não queria novos moradores com perfil de eleitor de esquerda. “Não venham. Não queremos vocês aqui”, disse.
Ela também afirmou que teme a perda das “raízes e tradições” do estado, que considera “tradicionalmente conservador”.
Após a repercussão, Zanatta acusou o estudante de distorcer sua fala, mas reafirmou os ataques e manteve o teor xenofóbico.
Entidades do setor reagiram. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Santa Catarina, a Associação Catarinense de Imprensa, além do Departamento, do Curso e do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo da UFSC, divulgaram uma nota conjunta em defesa do estagiário. Ressaltam que “a intimidação, a ameaça e as ofensas são potenciais vetores para o verdadeiro Jornalismo” e que cabe às instituições proteger a prática jornalística e seus profissionais, inclusive os em formação.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também se manifestou. A entidade afirmou que é inaceitável estigmatizar jornalistas com o objetivo de desvalorizar seu trabalho e deixá-los vulneráveis a novos ataques digitais. Destacou ainda que a deputada foi ouvida na reportagem, que respeitou o sentido de suas declarações.
Para a Abraji, pessoas públicas deveriam zelar pela liberdade da informação jornalística, e não utilizar suas redes para intimidar e tentar silenciar repórteres, ainda mais quando se trata de um estudante.
A entidade lembrou que, apesar de ofender o estagiário em público, Zanatta é uma das parlamentares que mais processam jornalistas no país por calúnia e difamação, segundo o monitor de assédio judicial da própria Abraji.
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