
Publicado originalmente no Cafezinho
Os ataques de Trump ao Brasil e aos BRICS vêm em um momento de muita solidez das nossas instituições.
As ameaças de tarifas adicionais de 10% às nações que integram a organização fundada por Brasil, Rússia, China e Índia, além da tentativa infame de interferir em um processo judicial em curso, podem ter efeito bumerangue. Ou seja, suas falas devem ajudar Lula a ampliar seu apoio popular, além de fortalecer o respeito da população às nossas instituições. Quanto aos ataques aos BRICS, eles apenas reforçam a necessidade, por parte dos países em desenvolvimento, de estabelecerem parcerias mais profundas e estratégicas.
O processo em questão é um dos mais importantes da história moderna do país, em que finalmente um punhado de golpistas corre o risco de ser punido pelo atentado à nossa democracia. Imaginem se Xi Jinping, presidente da China, ou qualquer outra liderança estrangeira, fizesse tais tipos de comentários sobre a política interna nacional?
Segundo a pesquisa Atlas Intel, o presidente Lula está mais forte no Brasil do que Trump nos Estados Unidos. A aprovação de Lula registrou 47,3%, representando crescimento em relação ao mês anterior, enquanto Trump, segundo a última pesquisa YouGov de 7 de julho, tem apenas 42% de aprovação. Vale lembrar que Trump está há menos de 200 dias de mandato, enquanto Lula já está há dois anos e meio no governo, enfrentando o desgaste natural do poder.
No comparativo regional, Lula também se destaca. Gabriel Boric, do Chile, tem 38% de aprovação, e Gustavo Petro, da Colômbia, registra apenas 32%. Segundo a Atlas Intel, Milei tem 44% de aprovação na Argentina. Somente Claudia Sheinbaum, do México, supera o brasileiro com 61% de aprovação, mas ela acabou de assumir e ainda desfruta do período de graça típico dos primeiros meses de mandato.

Outro ponto positivo é que Lula mantém 95% de aprovação entre seus próprios eleitores. Esse dado mostra que o presidente tem controle total sobre seu campo político, minando qualquer vestígio de possibilidade para um aventureiro, pelo menos no campo da esquerda. O campo da direita também é difícil para aventureiros aparecerem, já pelo controle que Bolsonaro, por sua vez, tem sobre sua base.
A pesquisa Bloomberg/Atlas Intel, que faz comparação abrangente entre vários países latino-americanos, revela dados sobre a confiança dos brasileiros nas instituições democráticas. O Brasil registra 36% de muita confiança na autoridade eleitoral, o maior índice da região, contra apenas 19% na Argentina e 23% no México.
43% dos brasileiros consideram o processo eleitoral completamente justo, contra apenas 13% na Argentina, 5% no Peru e 8% na Colômbia. Apenas 25% dos brasileiros veem problemas no processo eleitoral, índice similar ao de outros países. Os dados mostram que os bolsonaristas não estão conseguindo influenciar a opinião pública brasileira sobre supostos problemas em nossa democracia.

O país também registra a maior rejeição ao autoritarismo na região: apenas 6% aceitariam um governo não democrático para resolver problemas, contra 18% na Argentina e 26% no México. O Judiciário brasileiro tem a maior confiança regional, com 22% dos entrevistados demonstrando muita confiança, contra apenas 2% no Chile.
A mesma coisa vale para os BRICS. Os ataques de Trump vêm no momento em que a organização está mais fortalecida do que nunca, com uma fila de países querendo aderir. A reunião no Rio de Janeiro terminou com a aprovação da ampliação do total de parceiros. Por sua vez, Trump está no auge de sua rejeição na comunidade internacional, com suas tarifas malucas e sua decisão criminosa de atacar o Irã.
Avaliações setoriais equilibradas
As avaliações setoriais do governo mostram um cenário equilibrado. Lula tem boa avaliação em relações internacionais, criação de empregos, comércio internacional, direitos humanos, políticas sociais, moradia e turismo. O ponto mais fraco continua sendo a segurança pública, mas, mesmo assim, 40% consideram que está melhor do que no governo Bolsonaro.
Entre os programas considerados acertos pela população, a gratuidade para medicamentos do Farmácia Popular lidera com 85% de aprovação. A isenção de imposto de renda para pessoas com renda mensal abaixo de 5 mil reais tem 77% de aprovação, e a retomada do programa Mais Médicos registra 61%. O programa menos popular é o imposto sobre compras até 50 dólares, o famoso “imposto das blusinhas”.
Brasil lidera indicadores regionais
O risco político brasileiro caiu para 38 pontos em junho, o menor da série histórica e o melhor índice entre os países pesquisados na América Latina. O indicador varia de 0 (ausência total de risco de crise política) a 100 (risco máximo de crise política). Enquanto isso, a Argentina viu seu risco político explodir de 45 para 53 pontos. Colômbia está em 56, México em 46, e o Brasil mantém a melhor posição regional.
O índice de confiança do consumidor também registrou alta e está entre os melhores da América Latina, empatado com o México. As expectativas econômicas mostram equilíbrio: 43% acham que a situação da família vai melhorar, 43% que o emprego vai melhorar e 43% que a situação do Brasil vai melhorar.
A inflação registrou melhora significativa tanto na expectativa quanto na percepção atual. A expectativa caiu para 5,2%, o menor nível desde outubro de 2024, enquanto a percepção atual recuou para 6,2%.
Curiosamente, as Forças Armadas brasileiras registram a menor confiança da região, com apenas 8% de muita confiança e 47% sem nenhuma confiança — reflexo direto das tentativas golpistas recentes.
