
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), admitiu nesta quinta-feira (10) que a taxação de 50% sobre produtos brasileiros anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trará consequências negativas para a economia paulista, especialmente para setores estratégicos como o aeronáutico. “São Paulo é nosso maior exportador industrial para os EUA”, afirmou o bolsonarista durante evento sobre o Metrô, em contraste com suas críticas anteriores ao governo federal.
“O impacto é negativo, porque, como eu falei, São Paulo é um grande exportador. O maior destino de exportações industriais do Estado de São Paulo são os Estados Unidos”, disse Tarcísio no evento. “A gente precisa, obviamente, sentar na mesa, deixar de lado as questões ideológicas, deixar de lado as questões políticas, o revanchismo, as narrativas e trabalhar. A gente precisa estabelecer uma mesa de negociação”.
A mudança de tom ocorre após forte reação do Planalto às acusações iniciais de Tarcísio, que na noite anterior havia culpado diretamente o presidente Lula (PT) pela medida estadunidense.
A ministra Gleisi Hoffmann, da Secretaria de Relações Institucionais, contra-atacou, classificando o governador e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro como “cúmplices” do tarifaço, enquanto o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, usou termos ainda mais contundentes, chamando Tarcísio de “candidato a vassalo” por sua postura.
Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado. Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro. A responsabilidade é de…
— Tarcísio Gomes de Freitas (@tarcisiogdf) July 10, 2025
Analistas apontam que a justificativa comercial apresentada por Trump não se sustenta frente aos números. Dados oficiais mostram que os EUA mantêm superávit recorde de US$ 90 bilhões com o Brasil desde 2009, fato destacado pelo Nobel Paul Krugman ao caracterizar a medida como claramente política.
A referência explícita ao processo contra Bolsonaro na carta de Trump aos brasileiros reforça essa interpretação. “A forma como o Brasil tem tratado o ex-Presidente Bolsonaro, um líder altamente respeitado em todo o mundo durante seu mandato, inclusive pelos Estados Unidos, é uma vergonha internacional. Esse julgamento não deveria estar ocorrendo”, disse o presidente dos EUA em carta enviada a Lula.
Enquanto o governo federal se prepara para aplicar a Lei da Reciprocidade Econômica, setores produtivos manifestam preocupação com perdas concretas. A Embraer, citada por Tarcísio como exemplo de empresa prejudicada, vê ameaçados contratos recentemente fechados. Entidades industriais alertam para riscos ao emprego caso as taxas permaneçam.
O presidente Lula reafirmou a posição de soberania nacional, declarando que o Brasil não aceitará “tutela estrangeira” e que processos judiciais como o de Bolsonaro são de competência exclusiva da Justiça brasileira.