
Saiu caro e ainda não foi totalmente pago o pedágio cobrado para que Tarcísio de Freitas ganhe a confiança do bolsonarismo raiz. O extremista moderado tem um carnê na gaveta até outubro do ano que vem, se decidir seguir em frente e se habilitar a enfrentar Lula.
Hoje, Tarcísio teria que passar antes no que em São Paulo chamam de lanterneiro e no Rio Grande do Sul chamam de chapeador. Está com a lataria bem avariada.
O cara do boné aderiu com excesso de pressa aos ataques de Trump ao Brasil, e as piores bordoadas que levou foram desferidas não por inimigos, mas por parceiros políticos e pelas corporações de mídia, essas em tom inesperado.
Nunca antes o Estadão, que ainda usa fraque, havia se dirigido a uma figura pública da direita mundial ou nacional para chamá-la de mafiosa. Pois foi o que saiu no título do editorial do jornal para se referir às atitudes de Trump: “Coisa de mafiosos”.
Tarcísio, segundo o Estadão, aderiu a uma estrutura mafiosa: “Diante disso, é absolutamente deplorável que ainda haja no Brasil quem defenda Trump, como recentemente fez o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que vestiu o boné do movimento de Trump, o Maga (Make America Great Again), e cumprimentou o presidente americano depois que este fez suas primeiras ameaças ao Brasil por causa do julgamento de Bolsonaro”.
O Estadão entende que, “caso Trump leve adiante sua ameaça, Tarcísio e outros políticos embevecidos com o presidente americano terão dificuldade para se explicar com os setores produtivos afetados”.
O editorial da Folha, que o jornal transformou em manchete da versão online na tarde de quinta-feira, também pegou pesado. Vale a pena transcrever esse trecho:
“Chegou a hora de lideranças como o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) escolherem de que lado estão. Ou bem Tarcísio defende os exportadores paulistas e a soberania brasileira ou continua posando de joguete de boné de um agressor estrangeiro e da família Bolsonaro, cujo patriotismo de fancaria se dissolve e se transforma em colaboracionismo diante da perspectiva da cadeia”.
O Tarcísio colaboracionista calculou mal seu entusiasmo, diante da chance de finalmente se jogar nos braços do bolsonarismo, ter a bênção do líder nacional e a expectativa de desfrutar do poder com o aval do capo mundial a serviço das big techs.
Tarcísio é um tenente que virou burocrata de Estado e se elegeu governador de São Paulo sem nunca ter passado pela esquina da Ipiranga com a São João. Enfrenta, por amadorismo combinado com arrogância, uma situação sem similar na história brasileira.
Apoiou a fala e a atitude fascista de um déspota estrangeiro contra o país que pretende governar. Está com a lataria amassada na frente, nos lados, na traseira. O pneu dianteiro, do lado direito, dos caronas da Faria Lima, está furado. É um seminovo com avarias pesadas.
O que Folha e Estadão disseram dele, para depreciá-lo, é o que as elites empresariais de direita mandaram que dissessem. Tarcísio, segundo o Estadão, aliou-se a um “troglodita” que pode causar danos à economia brasileira.
Por isso os jornalões trataram a subserviência do governador num tom de condenação com efeitos irreversíveis. Tarcísio não foi criticado por ter cometido um erro ao se alinhar ao governante do país mais poderoso do mundo, mas a um delinquente que, para defender uma família e as big techs, tenta intimidar o sistema de Justiça e o governo brasileiro.
Para complicar, sabe-se agora, por furo jornalístico de Monica Bergamo na Folha, que Tarcísio pediu a ministros do STF que liberassem Bolsonaro (que está com passaporte retido), para que ele viajasse aos Estados Unidos e negociasse numa saída para o tarifaço com Trump. Mais um truque clássico de mafiosos, rejeitado, é claro, pelo Supremo.

O aliado de Trump pode estar descobrindo que, além de não ser ainda o candidato do bolsonarismo, não tem a confiança de ninguém, e muito menos da velha direita. Tarcísio foi carimbado pelos jornais, que refletem a média do tucanismo ainda desamparado, com definições de difícil conserto.
O joguete desastrado do mafioso tem uma tatuagem difícil de apagar. A velha direita cansada da guerra que ajudou a fomentar está de novo atrás de outro nome.