Governo avalia que reunião de Tarcísio com EUA não terá efeito; entenda

Atualizado em 12 de julho de 2025 às 8:09
Tarcísio de Freitas com boné do movimento trumpista. Foto: reprodução

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tenta se equilibrar politicamente enquanto tenta se apresentar como mediador na crise das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil. Aliados do presidente Lula (PT) avaliam que a reunião de Tarcísio com o chefe da embaixada estadunidense, Gabriel Escobar, na sexta-feira (11), foi mais uma manobra para desviar as críticas do que um esforço diplomático real.

No Palácio do Planalto, a iniciativa é vista com ceticismo. “Tarcísio não tem caneta para liderar uma negociação”, resumiu um ministro de Lula à Folha de S.Paulo, destacando que Escobar não é o embaixador e está distante do círculo de poder de Trump. A avaliação é que o movimento teria pouca efetividade prática, já que as exigências dos EUA, como o fim dos processos contra Bolsonaro e a revisão da regulação de big techs, fogem à alçada do governador.

A postura de Tarcísio vem sofrendo ajustes desde o anúncio das tarifas. Na quarta (9), ele associou a medida à política externa de Lula, criticando o que chamou de “prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil”.

Já na quinta (10), adotou um tom mais conciliador, defendendo “diálogo” e “negociação” – linha mantida após o encontro com Escobar, quando afirmou que “narrativas não resolverão o problema”.

Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas. Foto: reprodução

A tentativa de mediação, porém, esbarra em resistências tanto no campo bolsonarista quanto no governo federal. O deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que fugiu para os EUA a fim de pressionar Trump por sanções, foi taxativo: “Lamento, mas não dá para pedir ao presidente Trump, e nenhuma autoridade internacional minimamente decente, para tratar uma ditadura como se fosse uma democracia. Ou há uma anistia ampla, geral e irrestrita para começar ou bem-vindos à ‘Brazuela'”.

O ex-apresentador Paulo Figueiredo, outro bolsonarista atuante em Washington, foi ainda mais direto: “Enquanto o sistema tiver esperanças de que ele surja como o salvador da pátria intermediando um acordo com os EUA, não vão nem cogitar aquela que é a única solução real: a anistia ampla, geral e irrestrita”.

Do lado governista, o líder na Câmara, José Guimarães (PT-CE), critica: “Até na ditadura prevalecia o nacionalismo. Hoje, não. São subservientes”. A avaliação no Planalto é que Tarcísio “falhou em seu primeiro teste nacional”, expondo contradições ao tentar equilibrar bolsonarismo, interesses empresariais e relação com o Judiciário.

A situação se complicou após a revelação de que Tarcísio telefonou para ministros do STF propondo que autorizassem Bolsonaro a viajar aos EUA para negociar com Trump. A ideia, considerada “fora de propósito” pelos magistrados, foi interpretada por aliados de Lula como risco de fuga do ex-presidente.