Tarifaço de Trump vira munição contra Eduardo Bolsonaro no STF; entenda

Atualizado em 12 de julho de 2025 às 23:53
Eduardo e Jair Bolsonaro. Foto: TOMZÉ FONSECA/FUTURA PRESS

O anúncio do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, feito na sexta-feira (11), sobre a aplicação de uma sobretaxa de 50% a produtos brasileiros gerou repercussão no Brasil e no exterior. No entanto, a medida não deve alterar o curso do julgamento de Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF), mas pode impactar o inquérito que envolve seu filho, o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Com informações da Folha de S.Paulo.

A avaliação foi feita por ministros do STF, assessores, advogados ligados ao processo e pessoas próximas aos envolvidos. Eles entendem que a carta e as declarações de Trump podem reforçar a suspeita de que Eduardo atua politicamente nos Estados Unidos para interferir nas investigações que envolvem sua família, além de atacar instituições brasileiras.

Eduardo é investigado por suspeita de coação, obstrução de investigação e tentativa de abolir, de forma violenta, o Estado democrático de Direito. A Procuradoria-Geral da República (PGR) acredita que ele tenha articulado ações com autoridades americanas contra membros do Supremo, da própria PGR e da Polícia Federal. O inquérito, conduzido pelo ministro Alexandre de Moraes, foi prorrogado por mais 60 dias para aprofundamento das diligências.

A sobretaxa anunciada por Trump foi apresentada como reação àquilo que ele chamou de “caça às bruxas” a Bolsonaro e a ordens de censura emitidas no Brasil contra plataformas digitais. O posicionamento vai ao encontro da narrativa de Eduardo, que tem acusado o ministro Moraes de violar direitos humanos ao censurar empresas e usuários nas redes sociais.

O deputado Eduardo Bolsonaro com o influenciador Paulo Figueiredo, em Washington. Foto: Reprodução X

No mesmo dia da medida comercial, Eduardo e o ex-apresentador Paulo Figueiredo — réu na investigação sobre tentativa de golpe — divulgaram uma carta defendendo que autoridades brasileiras evitem agravar o conflito com os Estados Unidos. Segundo o documento, o aumento tarifário seria resultado do diálogo que ambos mantêm com figuras ligadas ao governo Trump. Eles também indicam que sanções contra Moraes podem ser adicionadas ao pacote de retaliações.

Nos bastidores, fontes com conhecimento da investigação avaliam que as declarações públicas de Eduardo e sua articulação com lideranças estrangeiras fortalecem os indícios de que ele tenta influenciar processos judiciais no Brasil. No início do mês, Moraes já havia incluído um vídeo publicado por Eduardo na rede X como prova de interferência contínua na apuração sobre a tentativa de golpe.

Na última sexta-feira (11), o deputado condicionou qualquer tratativa sobre as tarifas à concessão de uma “anistia ampla, geral e irrestrita”. A publicação foi feita logo após o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) se reunir com o chefe da embaixada americana Gabriel Escobar, e defender o diálogo como alternativa. Em depoimento à PF, Jair Bolsonaro foi questionado sobre quem financia Eduardo nos EUA e com quais agentes ele atua.

Apesar do ruído político gerado pelo gesto de Trump, ministros do STF afirmam que o processo contra Jair Bolsonaro seguirá conforme o cronograma previsto. A Primeira Turma do tribunal deve julgar, a partir de setembro, o núcleo principal da acusação feita pela PGR. A expectativa é encerrar o caso ainda em 2025, para evitar que interfira no calendário eleitoral de 2026.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada e moderadora das lives no DCM.