Imigrantes brasileiros somem das ruas de Newark com política de Trump

Atualizado em 13 de julho de 2025 às 18:34
Manifestantes protestam contra a perseguição aos imigrantes na entrada de centro de detenção privado em Newark: apesar da convocação, muitos brasileiros decidiram não participar e ficar em casa. Foto: Dakota Santiago/The New York Times

A política de imigração mais rígida do governo Donald Trump tem impactado diretamente a vida dos brasileiros em Newark, nos Estados Unidos. No restaurante Cantinho Mineiro, referência na culinária brasileira local, a presença de clientes americanos se tornou maioria. A fundadora Márcia Silva relata queda de 50% no movimento desde a intensificação das operações da ICE (Agência de Imigração e Alfândega), que vêm gerando medo generalizado entre os imigrantes.

Desde fevereiro, batidas ostensivas da polícia migratória em bairros como Inwood têm assustado funcionários e clientes. Márcia viu sua equipe diminuir e passou a contar com americanos para manter o negócio. Ela admite que, pela primeira vez em 20 anos, cogita voltar ao Brasil. Aos domingos, trabalha pessoalmente nas cozinhas das duas unidades do restaurante.

A retração no consumo afeta não só o setor de alimentação, mas também farmácias e comércios em geral. Muitos brasileiros passaram a sair de casa apenas no início do dia, em silêncio, para evitar qualquer abordagem. Com medo de serem detidos e deportados, até os que possuem green card adotaram cautela. Comer fora se tornou um luxo.

Newark, que tem cerca de 20% da população de origem brasileira, segundo estimativas, foi historicamente um polo de migração por conta do aeroporto internacional e da proximidade com Nova York. A comunidade, antes ativa em festividades como a tradicional festa junina, agora evita grandes eventos. Em 2025, a celebração foi cancelada.

Ras Baraka. Foto: Reprodução

O prefeito de Newark, Ras Baraka, chegou a ser preso ao tentar fiscalizar uma unidade de detenção migratória, acusada de maus-tratos. Mesmo com apoio institucional da prefeitura e de ONGs, muitos brasileiros evitam protestos públicos por receio de represálias. Advogados relatam que clientes já não comparecem pessoalmente aos escritórios por medo de reconhecimento facial.

O colapso econômico se espalha por diversas regiões dos EUA, afetando empreendedores brasileiros de restaurantes, salões e casas de shows. Advogados de imigração apontam que a repressão tem anulado anos de trabalho e investimento. Em Newark, o sentimento predominante entre os brasileiros é o de medo e incerteza, em um cenário que combina repressão estatal e crise econômica.