
O Palácio do Planalto encomendou pesquisas de opinião para avaliar os desdobramentos políticos do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros. A sobretaxa de 50%, anunciada na última quarta-feira (9), foi interpretada pelo governo como mais do que uma medida comercial – trata-se também de um gesto político com potencial de reverberação interna.
Segundo fontes ouvidas pela coluna do jornalista Igor Gadelha, do Metrópoles, o objetivo principal é mensurar como o episódio afeta a imagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), citado diretamente por Trump como motivo da retaliação. Na carta em que oficializou a medida, o republicano norte-americano criticou a “perseguição política” contra Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de Estado em 2022.
A leitura do Planalto é que a medida pode ser usada politicamente para reforçar a oposição entre os dois projetos de país. Ainda na noite do anúncio da sobretaxa, nomes de destaque do governo, como Sidônio Palmeira (Ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República ) e Gleisi Hoffmann (Ministro de Secretaria de Relações Institucionais do Brasil), recorreram às redes sociais para associar a punição norte-americana ao bolsonarismo.
“Lula quer taxar os super-ricos. Bolsonaro quer taxar o Brasil”, foi a fala usada como slogan. A frase foi replicada por outros integrantes da base aliada e tornou-se um dos motes nas narrativas do governo nos dias seguintes. A estratégia é clara: atribuir a responsabilização do tarifaço às ações e à retórica de Bolsonaro e seus apoiadores, especialmente aqueles que, como o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), têm mantido relação próxima com Trump – já que, em momento algum, se colocaram na posição de tentar dialogar com o mandatário norte-americano e impedir uma ação que prejudica o país.
Além de medir o impacto entre os eleitores em geral, a pesquisa também deve observar como a sobretaxa afeta a percepção entre segmentos específicos, como o agronegócio, diretamente atingido pela medida, e a classe empresarial, que tem mantido diálogo com o governo em busca de previsibilidade econômica.