Caguetagem, “ética” e vergonha: vídeos expõem o racha entre os chefões do PCC

Atualizado em 14 de julho de 2025 às 8:55
Os líderes do PCC, Marcos Willians Camacho, o Marcola; Roberto Soriano, o Tiriça; e Abel Pacheco, o Vida Loka. Foto: Reprodução

Um conflito interno está abalando as estruturas do Primeiro Comando da Capital (PCC). Vídeos inéditos, obtidos pelo Fantástico, revelam um racha na cúpula da facção criminosa, com acusações graves entre líderes históricos e impactos diretos na segurança pública nacional.

A crise teve início após uma acusação de “caguetagem” — um dos crimes mais graves no submundo do crime organizado. Abel Pacheco, conhecido como Vida Loka, figura influente no PCC, acusou Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola — líder máximo da facção — de ter delatado Roberto Soriano, o Tiriça, outro nome importante da organização.

A acusação surgiu após a divulgação de um áudio, gravado em 2022, no qual Marcola conversa com o chefe de segurança do Presídio Federal de Porto Velho. No diálogo, Marcola sugere que Soriano estaria envolvido nos assassinatos de servidores penais federais.

“O mundo do crime tem sua ética. Nós excluímos Marcola do mundo do crime. O crime de São Paulo não merecia passar por essa vergonha”, declarou Vida Loka, em vídeo.

Conflito exposto durante julgamento de Soriano

A rivalidade interna veio à tona durante o julgamento de Soriano, acusado da morte do policial penal federal Alex Belarmino, executado em 2 de setembro de 2016, no Paraná. O caso também envolve o assassinato da psicóloga Melissa Araújo, morta em maio de 2017.

Segundo a polícia, os crimes foram ordenados por lideranças do PCC. O então chefe do grupo no Paraná, Claudemir Guabiraba, assumiu ter ordenado o assassinato de Belarmino. O Ministério Público Federal aponta Soriano como o mandante das duas execuções, o que ele nega.

Marcola, por sua vez, em conversa com seu advogado, minimizou sua responsabilidade e afirmou que já “administrava a penitenciária” desde 2001. Para Vida Loka, essa fala foi um “tapa na cara do crime”: “Bandido é bandido, polícia é polícia”.

Após a repercussão do áudio, Vida Loka e Andinho (Wanderson Nilton de Paula Lima) confrontaram Marcola, que tentou negar a autenticidade da gravação. Um laudo técnico confirmou que o áudio não havia sido manipulado. “Nós excluímos Marcola do mundo do crime”, reafirmou Vida Loka.

Facção dividida entre Marcola e dissidentes

Apesar do rompimento declarado por Soriano, Vida Loka e Andinho, a maioria dos integrantes do PCC “na rua” permaneceu fiel a Marcola. Ele nega a acusação de delação e afirma ser vítima de calúnia — o que também é considerado crime dentro do universo criminoso.

Durante o julgamento, Soriano declarou: “Eu não sou inimigo do PCC. Eu sou inimigo do Marcola”. No oitavo dia do júri, foi condenado a 23 anos e 5 meses de prisão. Sua defesa alega falta de provas e afirma que as delações foram construídas para incriminá-lo.

“A luta dele é contra um sistema que avilta, corrompe e degrada a condição humana do preso”, declarou a defesa. Soriano também afirmou ter decidido sair da facção.

Estado tenta conter a facção com isolamento de líderes

Desde 2012 — e com mais força a partir de 2019 — o Ministério Público de São Paulo tem isolado chefes do PCC em presídios federais. A estratégia visa justamente provocar fissuras internas, como agora se evidencia.

Segundo Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleo de Estudos da Violência da USP, o PCC sempre se destacou por manter unidade, ao contrário das facções do Rio de Janeiro. O julgamento de Soriano foi visto como uma oportunidade de “fazer a caveira do Marcola”.

PCC pode perder hegemonia em São Paulo?

O maior temor das autoridades é que o racha leve à fragmentação da facção em São Paulo, cenário semelhante ao vivido no Rio, onde disputas internas deram origem a facções rivais e aumentaram a violência urbana.

Assista abaixo: