Bolsonaristas chamavam golpe de “churrasco”; entenda

Atualizado em 15 de julho de 2025 às 13:38
O ex-presidente Jair Bolsonaro almoçando em uma churrascaria. Foto: reprodução

A Procuradoria-Geral da República (PGR) revelou em seu parecer final sobre o caso do golpe de Estado que o termo “churrasco” foi usado como codinome para se referir aos planos golpistas em conversas entre manifestantes e investigados. O documento de mais de 500 páginas, entregue na última segunda-feira (14) ao Supremo Tribunal Federal (STF), detalha como a expressão servia de linguagem cifrada nas comunicações entre aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro.

“O pessoal que colaborou com a carne está me cobrando se vai ser feito mesmo o churrasco. Pois estão colocando em dúvida a minha solicitação”, escreveu um dos participantes, identificado como Aparecido Andrade Portela, ao tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. Em resposta, Cid afirmou que o assunto seria um “ponto de honra” e se ofereceu para conversar com o grupo.

O mesmo código apareceu em diálogo entre o manifestante Rodrigo Yassuo e o general Mário Fernandes. Yassuo informou que iria para uma manifestação na Esplanada em 10 de dezembro de 2022 e afirmou precisar conversar sobre “aquele churrasco”. No dia seguinte, questionou “se tem uma agenda prevista” para as manifestações, repetindo a pergunta em 13 de dezembro após a tentativa de invasão da PF.

No documento, o procurador-geral Paulo Gonet pede a condenação de Bolsonaro e outros sete réus por cinco crimes: tentativa de golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, organização criminosa armada, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado.

O texto ainda afirma que as evidências mostram que Bolsonaro “agiu de forma sistemática, ao longo de seu mandato e após sua derrota nas urnas, para incitar a insurreição”.

Gonet destacou que o ex-presidente foi “o principal coordenador da disseminação de notícias falsas e ataques às instituições”, usando a estrutura do governo para promover a subversão da ordem.

“As ações não se limitaram a uma postura passiva de resistência à derrota, mas configuraram uma articulação consciente para gerar um ambiente propício à violência e ao golpe”, afirmou.

O processo inclui ainda o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-ministros de Bolsonaro e o ex-comandante da Marinha Almir Garnier, considerados parte do núcleo central da trama. Outros 25 réus estão distribuídos em três núcleos complementares.

Com a entrega das alegações finais, inicia-se o prazo para manifestações dos acusados. Mauro Cid será o primeiro a se pronunciar, devido a seu acordo de delação premiada. Os demais terão 15 dias para apresentar defesas. O processo segue em andamento durante o recesso judiciário porque um dos réus, o general Walter Braga Netto, está preso.