
O Partido Liberal (PL), legenda do ex-presidente Jair Bolsonaro, destinou R$ 600 mil em recursos do fundo partidário ao escritório do advogado Sérgio Henrique Cabral Sant’Ana, sócio do deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Os pagamentos, realizados ao longo de 2024, foram feitos em sete parcelas: cinco de R$ 80 mil, uma de R$ 160 mil e outra de R$ 40 mil, conforme documentos obtidos pela Blog do Gerson Nogueira.
Sant’Ana recebeu os valores por meio de sua sociedade individual de advocacia, que compartilha endereço, telefone e domínios digitais com o Instituto Conservador-Liberal, entidade que fundou em parceria com Eduardo Bolsonaro.
Nos registros apresentados à Justiça Eleitoral, o PL justificou os repasses como pagamento por “assessoria jurídica” prestada à bancada do partido na CPMI de 8 de Janeiro, à Liderança da Oposição e às comissões de Constituição e Justiça e de Educação.
Enquanto recebia os recursos públicos, Sant’Ana atuou ativamente na articulação internacional da extrema-direita, visitando países como Espanha e Estados Unidos, atividade que lhe rendeu o apelido de “chanceler do bolsonarismo”. O advogado também coordenou a organização da Conferência de Ação Política Conservadora, o CPAC Brasil, realizada em Balneário Camboriú (SC) e promovida pelo Instituto Conservador-Liberal (ICL).
Em 2023, o PL já havia utilizado recursos públicos para financiar o CPAC por meio de sua fundação partidária. Na ocasião, Sant’Ana defendeu a aplicação do dinheiro: “A missão da fundação do PL é difundir os valores conservadores. A parceria com o CPAC faz todo sentido”.

A atuação de Sant’Ana foi fundamental para consolidar os laços entre o bolsonarismo e a extrema direita norte-americana. Foi ao lado do advogado que Eduardo Bolsonaro visitou a Heritage Foundation, importante think tank conservador dos EUA. Recentemente, o deputado agradeceu publicamente a Donald Trump pela imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros.
Embora o Tribunal de Contas da União (TCU) tenha aceitado pedido para investigar gastos de Eduardo Bolsonaro nos Estados Unidos, o caso deve ser arquivado por não atingir o valor mínimo de R$ 120 mil necessário para abertura de processos formais, os gastos questionados são de aproximadamente R$ 5 mil.
A movimentação financeira revela como o bolsonarismo se estruturou como braço brasileiro do trumpismo, estabelecendo conexões ideológicas, operacionais e financeiras com a extrema direita internacional. Desde a eleição de Trump em 2016, a família Bolsonaro e aliados como Sant’Ana vêm construindo essa rede, sendo o CPAC um dos principais eixos dessa articulação.