Trump declara guerra ao Pix – e o bolsonarismo derreterá de vez

Atualizado em 16 de julho de 2025 às 7:48
Donald Trump, presidente dos EUA – Foto: Reprodução

O governo dos Estados Unidos, por ordem direta de Donald Trump, abriu uma investigação comercial contra o Brasil. O motivo? Práticas supostamente “desleais” em várias áreas, do etanol ao desmatamento. Mas um ponto específico vai virar dinamite na política brasileira.

Segundo o Escritório do Representante de Comércio dos EUA, o Brasil estaria prejudicando empresas americanas ao utilizar um sistema de pagamentos desenvolvido pelo governo — no caso, o Pix. É como se dissesse: o Pix é bom demais, rápido demais, eficiente demais — e isso é injusto com os cartões de crédito cobradores de tarifa das big techs dos EUA. A alegação é absurda, mas real. Trump quer enquadrar o Pix como uma “ameaça” à concorrência.

Esse ataque é um erro monumental. Nenhum governo, seja de esquerda ou direita, conseguiria justificar para a população a destruição de um sistema que virou parte da vida cotidiana. O Pix foi uma das poucas inovações estatais brasileiras amplamente aceitas, usadas e elogiadas pela população inteira — sobretudo nas periferias urbanas e no comércio informal. Tirar ou sabotar o Pix é declarar guerra a quem mais precisa dele.

Bolsonaristas que agora se veem forçados a escolher entre o mito americano e o Pix vão passar vergonha. Não há influencer de direita, vereador ou pastor que consiga explicar em bom português por que o povo teria que voltar ao tempo de TED, DOC ou maquininhas cobrando 4% por transação. Quando a conta do bar, o aluguel do quarto ou a venda da quentinha ficarem mais difíceis, o discurso do “Trump é nosso aliado” perde qualquer força.

Trump também mira outros pontos de fricção: tarifas “injustas”, desmatamento, pirataria na 25 de Março, bloqueio a redes sociais que não moderam conteúdo golpista, dificuldade de acesso ao mercado brasileiro de etanol. Nada disso, porém, tem o poder simbólico e material do ataque ao Pix.

Essa decisão tem data para escalar. Em 1º de agosto, entra em vigor o tarifaço de 50% contra todos os produtos brasileiros. É uma tentativa de sufocar o Brasil economicamente — sem base técnica, sem negociação e com motivação claramente política.

Mesmo tentando se distanciar de Bolsonaro — dizendo não ser seu “amigo” —, Trump usou o processo no STF contra o ex-presidente como justificativa indireta para punir o Brasil. Ataca a soberania do Judiciário brasileiro ao defender redes sociais que espalham mentiras e conspiracionismo. Ao mesmo tempo, acusa o Brasil de não proteger propriedade intelectual e de manter uma zona franca de falsificações em São Paulo.

Jair Bolsonaro e Donald Trump – Foto: Reprodução

O movimento é parte de uma guinada nacionalista dos EUA, que já havia atingido a China e a União Europeia. Agora, Trump testa o Brasil. E expõe a fraqueza do bolsonarismo: sua total submissão ao trumpismo. Mesmo sendo chutado, Bolsonaro silencia. Mesmo sendo penalizado, seus aliados fingem que nada acontece.

Mas dessa vez, o golpe vai bater no estômago do povo. O Pix não é ideologia — é sobrevivência. A perseguição a ele pode, sim, marcar o começo do fim do bolsonarismo como fenômeno popular. Afinal, nem o mais fanático vai aceitar ficar sem receber um Pix porque Trump mandou.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.