
A tentativa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de proteger Jair Bolsonaro de uma possível condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) pode ter surtido efeito contrário, segundo aliados do ex-presidente que conversaram com a coluna de Mônica Bergamo, na Folha. Ao citá-lo como um dos motivos para impor uma sobretaxa de 50% às exportações do Brasil, o norte-americano não apenas vinculou o brasileiro às sanções como também fortaleceu o discurso do governo Lula.
Em carta enviada ao presidente Lula, Trump condicionou a suspensão das novas tarifas ao fim do julgamento de Bolsonaro no STF, que ele classificou como uma “caça às bruxas”. A fala gerou forte repercussão política, inclusive entre apoiadores do ex-presidente, que viram na atitude do republicano um erro estratégico.
Segundo dirigentes de partidos do campo bolsonarista, pesquisas internas confirmam o levantamento divulgado pela Quaest nesta quarta-feira (16): a aprovação de Lula subiu após o anúncio das tarifas. A retórica de Trump, que pretendia defender Bolsonaro, acabou sendo percebida como uma agressão à economia brasileira e elevou a rejeição entre parte do eleitorado conservador.
Aliados agora tentam conter os danos e desenhar uma saída. O temor é que Bolsonaro passe a ser associado diretamente ao impacto econômico negativo das sanções, que incluem potencial alta da inflação, perda de empregos e freios ao crescimento. O que era para ser uma ação de apoio virou, segundo um interlocutor, “um buraco difícil de sair”.

A avaliação dentro do bolsonarismo é que, se Trump não tivesse mencionado o ex-presidente na carta, as consequências da sobretaxa recairiam exclusivamente sobre Lula, permitindo que a oposição usasse o tema como arma política.
Agora, com a vinculação explícita de Bolsonaro às medidas, o governo petista passou a ocupar a posição de defensor dos interesses nacionais. Trump justificou a medida alegando perseguição judicial contra o ex-presidente.
Mas, ao fazê-lo, acabou consolidando a percepção de que o Brasil virou alvo dos interesses econômicos e ideológicos norte-americanos. Para assessores do ex-presidente, a fala do republicano aproxima Bolsonaro de uma figura colada a pressões estrangeiras, o que enfraquece sua retórica de soberania e patriotismo.
Internamente, já circula a ideia de tentar convencer Trump a recuar das tarifas e redirecionar suas sanções a membros do Supremo Tribunal Federal, especialmente Alexandre de Moraes. No entanto, mesmo aliados próximos consideram isso improvável, acreditando que ele quer algo mais amplo: impor sua agenda econômica sobre o Brasil, como faz com outras nações.