Todo mundo joga pedra no extremista moderado. Por Moisés Mendes

Atualizado em 16 de julho de 2025 às 22:35
Tarcísio de Freitas, governador de SP. Foto: Cleiby Trevisan

Facções da bandidagem paulistana jogam pedras nos ônibus de uma cidade abandonada pelo desgoverno na área da segurança. Facções do bolsonarismo em desalento atiram pedras no governador, que nesse momento está trepado num muro estreito e frágil.

Tarcísio de Freitas não controla os atiradores de pedra da capital sem lei. E não dá sinais de que possa ter o controle de parte dos grupos bolsonaristas que o enxergam como o vacilão da extrema direita. E ainda leva pedradas certeiras de Eduardo Bolsonaro, disparadas dos Estados Unidos em nome da família.

Outro grupo, com pedras jogadas com bodoque, reúne os três jornalões que até pouco tempo tentavam ver em Tarcísio a chance de derrotar Lula em 2026. As pedradas atiradas por Folha, Globo e Estadão são as mais surpreendentes.

De todas as facções apedrejadoras, qual a que preocupa mais? É uma escolha difícil, como diria o Estadão. As pedradas nos ônibus denunciam um governador incapaz de conter criminosos ligados às máfias que se infiltraram no Estado.

Enquanto ele vacila sobre o muro, a violência se alastra em São Paulo para os bairros de classe média e de ricos da Capital e para as cidades da região metropolitana.

Já as pedradas do bolsonarismo raiz podem tirá-lo da briga com Eduardo pela bênção do chefão. Cresce a desconfiança com Tarcísio dos que exigem fidelidade incondicional a Bolsonaro.

E as pedradas dos jornalões expressam a ruptura com contingente importante da velha direita e da elite paulista, do café e do setor industrial à Faria Lima. Os recados mais fortes são os do Estadão, que agora chama Bolsonaro e seu entorno de patriotas fajutos.

Tarcísio juntou as pedras e tentou erguer um muro, de onde pode desabar sobre a direita, a velha e nova, que chegou a apostar na sua esperteza de tenente que virou burocrata de Estado e virou governador.

Para a direita antiga, engolida pelo bolsonarismo, Tarcísio chegou a ser a única salvação anti-Lula, mesmo que tenha origem no bolsonarismo. Não é mais.

O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Beto Barata/PL

O extremista moderado é um camaleão atrapalhado com tantas camuflagens. Na terça-feira, na reunião com empresários do segundo e do terceiro time executivo de grupos paulistas, vestiu-se de moderado na guerra com Trump.

Depois de colocar o boné de Trump após a eleição, de apoiar a guerra tarifária e afrontar o Supremo, é um conciliador. Contam que em nenhum momento referiu-se a Bolsonaro na reunião com os subalternos enviados ao encontro.

Tarcísio tenta ficar bem com os empresários e recalibra ação e retórica, ao perceber que a posição majoritária dos brasileiros é anti-Trump e anti-Bolsonaro. Mas fica mal com o bolsonarismo.

A recomendação que vem por recados dos jornalões é para que busque uma saída improvável. Afaste-se de Trump e de Bolsonaro e tente se viabilizar como nome da direita, sem compromissos com a família líder da extrema direita.

Não tem como. Todas as pedras de todos os tamanhos que o extremismo tem em estoque seriam atiradas na direção do traidor. E não haveria certeza de que ele seria acolhido de novo pela velha direita.

Tarcísio é a Geni do momento. Leva pedradas das máfias, de Eduardo, dos manés da base extremada e da direita envelhecida e exausta. A única chance que teria de sobreviver seria pelo esgotamento do estoque de pedras.

Mas há uma pedreira à disposição das facções que tentaram explorá-lo contra Lula e agora o detestam ou o enxergam como um frouxo fraco e inconfiável, sob qualquer ponto de vista.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/