
O maior centro de comércio popular da América Latina, a Rua 25 de Março, em São Paulo, entrou oficialmente na mira do governo estadunidense. Em documento divulgado na terça-feira (15), o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR) apontou o local como um dos maiores mercados de produtos falsificados do mundo, incluindo-o em uma ampla investigação comercial contra o Brasil.
A medida foi anunciada após Donald Trump ameaçar a impor tarifas de 50% sobre exportações brasileiras, em defesa ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O relatório aponta que a região “permanece há décadas como um dos maiores mercados de produtos falsificados”, apesar de operações policiais recorrentes.
O que dizem os comerciantes e frequentadores?
Na movimentada rua do centro paulistano, a reação ao anúncio dos EUA varia entre indignação e perplexidade.
“Ele não tem nem por que palpitar, né? Muitas coisas daqui vão para lá”, disse Cidélia, técnica em enfermagem, em entrevista ao G1.
“Ele tá comparando um negócio do Brasil com Estados Unidos, lá do outro lado onde ele tá, então, tipo, não tem lógica”, comentou Kethelen Souza, vendedora.
Fernando, outro comerciante, foi enfático: “Ele não representa o Brasil. Não tem direito a isso. Quem tem direito é o governo brasileiro”.
Alguns reconhecem a existência de produtos paralelos, mas defendem a legalidade da maioria do comércio.
“Bem, normalmente a qualidade do produto varia. Tudo bem, tem falso, mas 100% não. Talvez 20%, uma coisa assim”, ponderou o vendedor Fernando.
Vitória, empresária da região, garantiu: “Todos os nossos produtos são fabricados na China, sim, mas todos da nossa marca mesmo”.

Os argumentos de Trump
O relatório do USTR acusa o Brasil de não combater eficazmente a “importação, distribuição, venda e uso generalizado de produtos falsificados”, citando especificamente:
– Consoles de videogame modificados;
– Dispositivos de streaming ilícitos;
– Outros equipamentos que violam propriedade intelectual.
Segundo o documento, a falsificação persiste na região devido à “ausência de sanções, penalidades e medidas dissuasórias”. O texto menciona ainda outros pontos críticos em São Paulo, como o Centro Histórico, Santa Ifigênia e Brás, incluindo diversos shoppings e galerias comerciais.
A Associação Representativa do Comércio da Região da 25 de Março (Univinco25), que reúne mais de 3 mil estabelecimentos formais – rebateu as acusações.
Em nota, a entidade afirmou que os produtos comercializados são majoritariamente importados da China e não têm relação com os Estados Unidos. Reconheceu que existem “pontos isolados” com comércio irregular, mas destacou que “essas práticas são continuamente fiscalizadas e combatidas” e não representam a maioria dos lojistas.
Além da questão da propriedade intelectual, o USTR investigará:
1. Comércio digital e pagamentos eletrônicos – Possível prejudicial a empresas americanas;
2. Tarifas preferenciais – Benefícios concedidos a parceiros estratégicos do Brasil;
3. Combate à corrupção – Falhas na aplicação de medidas anticorrupção;
4. Setor de etanol – Aumento de tarifas para o produto americano;
5. Desmatamento ilegal – Impacto na competitividade de produtores dos EUA.
Alguns comerciantes enxergam motivações políticas por trás da investigação. “Acho que o maior problema americano é a evolução da China, principalmente porque a China é o maior parceiro comercial brasileiro”, analisou Sérgio Luís Daril, vendedor.
Josiel Vieira, eletricista, fez uma crítica direta: “Eu vejo o Trump como uma pessoa que tem uma arma. A arma dele é taxa. O país que ele não é favorável, ele põe tarifa. Acho super errado isso”.