Washington Post: Casa Branca já tem minuta para sancionar Moraes, mas enfrenta resistência

Atualizado em 18 de julho de 2025 às 7:24
Alexandre de Moraes e Eduardo Bolsonaro. — Foto: Arte/g1

O jornal The Washington Post afirmou que o governo Trump já elaborou uma minuta formal para impor sanções contra o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes, mas o plano encontra forte resistência dentro do próprio governo norte-americano.

A proposta, articulada diretamente por Eduardo Bolsonaro e apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o golpista Paulo Figueiredo, pretende aplicar medidas punitivas ao ministro sob alegação de violações de direitos humanos, com base na Lei Magnitsky, um instrumento jurídico dos EUA criado para sancionar estrangeiros acusados de corrupção ou abuso de direitos fundamentais.

Segundo o Post, o Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros (OFAC), órgão do Departamento do Tesouro que regula a aplicação de sanções, rejeitou nas últimas semanas o avanço da minuta. Além do Tesouro, o Departamento de Estado, chefiado pelo secretário Marco Rubio, também teria apontado riscos à imagem internacional dos EUA, alertando que a punição contra um juiz da Suprema Corte de outro país por decisões judiciais seria um grave abalo à credibilidade americana na defesa da democracia global. Um alto funcionário do Departamento de Estado disse ao jornal que “é difícil conceber uma ação mais prejudicial à reputação democrática dos EUA”.

A minuta das sanções, redigida há mais de um mês, circula nos bastidores da Casa Branca, impulsionada pela ofensiva de Eduardo Bolsonaro, que se posiciona como principal interlocutor do governo Trump para tratar do Brasil. O deputado licenciado esteve em várias reuniões com autoridades americanas e, segundo Paulo Figueiredo, ele e Eduardo visitaram a Casa Branca “mais vezes do que posso contar”. O grupo teria entregue dezenas de relatórios a parlamentares republicanos, pressionando pela adoção das sanções contra Moraes e seus aliados.

O jornalista Paulo Figueiredo e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL) em pé lado a lado, olhando para a câmera
Paulo Figueiredo e o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

Ainda de acordo com o jornal, Trump já demonstrou simpatia pela pressão feita por Eduardo Bolsonaro, mas há preocupação entre assessores e interlocutores da Casa Branca de que o brasileiro esteja conduzindo o presidente americano a um confronto diplomático sem precedentes com o Brasil. Uma das fontes ouvidas, próxima à família Bolsonaro, disse temer que Eduardo esteja “dando maus conselhos políticos”, potencializando uma guerra comercial e institucional que pode ser desastrosa para as relações bilaterais.

A pressão de Eduardo e de setores da extrema direita ganhou força após Trump anunciar, na semana passada, uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, sob o argumento de que há uma “caça às bruxas” contra Bolsonaro. O ex-presidente dos EUA também enviou uma carta pública a Jair Bolsonaro, na qual defende que o julgamento contra ele “deve terminar imediatamente”. A defesa de Bolsonaro ocorre em meio à acusação de que o ex-presidente brasileiro liderou um plano de golpe de Estado após perder as eleições de 2022, conspiração que pode levá-lo à prisão por décadas.

A reportagem destaca ainda que a campanha internacional para desestabilizar Moraes não se restringe ao governo do EUA. Em fevereiro, empresas ligadas a Trump, como a Truth Media e a plataforma Rumble, abriram processo contra o ministro em um tribunal da Flórida, acusando-o de censura por decisões que determinaram o bloqueio de contas usadas por desinformadores radicados nos EUA.

Em solo brasileiro, a atuação internacional de Eduardo Bolsonaro também está na mira da Justiça. A Procuradoria-Geral da República pediu a abertura de inquérito no STF para apurar se o deputado tentou interferir em processos judiciais ao fazer lobby em Washington. O Supremo também avalia se Eduardo produziu provas contra si ao admitir nas redes sociais que influenciou Trump a adotar o tarifaço contra o Brasil.