
O governo Lula (PT) aposta em três frentes para tentar barrar o tarifaço de 50% imposto por Donald Trump sobre produtos brasileiros. Enquanto aguarda uma sinalização da Casa Branca, o Planalto foca na pressão do setor privado, na medição dos impactos econômicos e na preparação de eventuais medidas de retaliação, conforme informações da colunista Renata Agostini, do Globo.
A aposta mais imediata é na força do lobby empresarial. Executivos de multinacionais e empresários brasileiros com atuação nos Estados Unidos se mobilizaram para alertar Washington sobre os efeitos negativos da medida.
Um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta que o próprio PIB americano pode cair 0,37% com o aumento tarifário. Além disso, setores estratégicos do “café da manhã” americano — como café, carne e suco de laranja — seriam diretamente afetados, gerando impacto inflacionário.
O governo também iniciou um diagnóstico emergencial para calcular o real prejuízo à indústria nacional. A partir de reuniões com empresários, o vice-presidente Geraldo Alckmin, que lidera o processo, deve reunir dados de diversos setores sobre a impossibilidade de redirecionar a produção para outros mercados. Esses documentos serão enviados ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC).
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_da025474c0c44edd99332dddb09cabe8/internal_photos/bs/2025/w/M/k8yvi9RwmXi1LcHVQBnA/whatsapp-image-2025-07-16-at-16.17.20-3-.jpeg)
Essas informações embasarão a terceira frente de reação: a formulação de uma lista de possíveis retaliações. Nos bastidores, diplomatas brasileiros discutem medidas como tarifas sobre livros, filmes e até a quebra de patentes de medicamentos. Apesar disso, o governo trata essas opções como último recurso, com foco prioritário na retomada do diálogo bilateral.
O problema é que, até agora, não há indícios concretos de que os Estados Unidos estejam dispostos a negociar. Para integrantes da diplomacia brasileira, a abertura de uma investigação comercial contra o Brasil pode tanto sinalizar endurecimento quanto criar espaço para uma negociação técnica. A avaliação, no entanto, ainda é cautelosa.
Dentro do Planalto, há perplexidade com a postura americana. A relação comercial entre os países historicamente favorece os EUA, que acumulam superávits e enfrentam tarifas médias baixas, de apenas 2,7%. Auxiliares de Lula também apontam que, se os insumos brasileiros ficarem inviáveis, os EUA podem acabar dependendo da China, rival geopolítico de Washington.
A leitura no Itamaraty é que as negociações entre os dois países estavam caminhando bem até a semana passada, quando Trump “politizou” o tema ao divulgar uma carta acusando o Judiciário brasileiro de promover uma “caça às bruxas” contra Jair Bolsonaro (PL).
Para interlocutores do governo, o salto da tarifa de 10% para 50% é uma medida extrema, e até agora injustificada, agravada pelo fato de Trump ter afirmado que adotou a sanção simplesmente porque “pode”.