RIP jornalismo: como a CNN se tornou porta-voz de chantagistas a serviço de Trump

Atualizado em 19 de julho de 2025 às 12:19
O ex-presidente Jair Bolsonaro em entrevista à CNN Brasil. Foto: reprodução

A CNN Brasil já não esconde o papel que decidiu assumir: o de vitrine para golpistas, ressentidos e operadores de chantagem contra as instituições brasileiras a serviço do governo Trump.

Longe do jornalismo sério e responsável, o canal tornou-se um palco onde figuras como Jair Bolsonaro, seu filho Eduardo, o escroque Paulo Figueiredo e todo tipo de sabotador desfilam diariamente, espalhando ameaças e delírios autoritários sem serem incomodados.

Nenhuma pergunta dura, nenhum questionamento, nenhuma interrupção quando um tratante mente de maneira descarada — só microfones abertos, cabeças baixas e levantamento de bola.

Esta semana, Eduardo Bolsonaro, em entrevista ao vivo, reagiu às sanções dos EUA a ministros do STF com uma fala de bandido: “Se houver cenário de terra arrasada, pelo menos eu estarei vingado desses ditadores de toga”. A CNN transmitiu tudo, sem qualquer reação.

O canal não apenas deu espaço, como aceitou a mensagem calado. Isso não é imparcialidade. É colaboração.

A situação se repete com frequência. Outro dia, uma mulher estranhíssima foi ao ar para afirmar — sem apresentar um único dado ou fonte — que Trump poderia retaliar militarmente o Brasil. Novamente, ninguém da bancada quis saber de onde vinham aquelas alegações. Nenhuma checagem, nenhuma ponderação. Apenas o espetáculo da desinformação.

Em outro episódio grotesco, uma repórter da CNN perguntou a Jair Bolsonaro se ele não poderia “negociar com Trump”, como se isso fosse possível. A pergunta — feita em tom de normalidade — escancarou o nível a que chegou a emissora. São todos cúmplices dessa quadrilha.

Em 2022, Rubens Menin, dono da CNN Brasil, elogiou publicamente a economia do governo Bolsonaro no mesmo dia em que promoveu uma demissão em massa nas redações do Rio, São Paulo e Brasília. A linha editorial do canal tem dono, e o dono tem lado.

Hoje, a CNN Brasil não cumpre mais função jornalística. Cumpre função política. Dá voz a traidores e assassinos, protege quem ameaça a democracia, banaliza o absurdo e silencia diante do autoritarismo. Quando a história for escrita, a CNN estará entre os que optaram por aplaudir o abismo em que seus convidados quiserem nos enfiar com a mãozinha de jornalistas acoelhados.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.