Eles não passariam, mas passaram em 2016 e em 2018. Passarão de novo? Por Moisés Mendes

Atualizado em 20 de julho de 2025 às 8:52
Eduardo Bolsonaro. Foto: Reprodução

É doloroso, mas vamos relembrar algumas grandes certezas que confundiram parte das esquerdas e foram desfeitas nos últimos anos.

A primeira: Dilma não será golpeada. Na sequência: Lula não será preso. E para completar: Bolsonaro não será eleito.

Eram os tempos em que ainda prevalecia o grito de guerra com o alerta aparentemente mobilizador de que eles não passarão. Um grito que pulou dos cartazes de rua para os banners virtuais.

Mas eles passaram, com Dilma golpeada com certa facilidade em 2016, sem reação nenhuma das ruas em sua defesa. Lula foi preso em 2018 e ficou 580 dias encarcerado, com resistência localizada da brava vigília em Curitiba.

E Bolsonaro foi eleito, chamou Sergio Moro para o governo, negou vacina e provocou a morte de milhares de brasileiros, quase se reelegeu no voto e quase teve sucesso num golpe que não funcionou porque alguns generais saltaram fora.

Hoje, ouve-se que Bolsonaro não conseguirá fugir, que as ameaças de Trump serão parte de um grande blefe e que Eduardo Bolsonaro acabará preso. Mas o que mais se escuta é que Trump não é tão perigoso quanto parece.

Como autoproteção e autoengano, as esquerdas, o lulismo e o petismo rejeitam a possibilidade de a guerra declarada por Trump inviabilizar o governo, a economia e, claro, o próprio Lula.

E se acontecer e Trump conseguir imobilizar produção e exportações, provocando um cenário de insegurança generalizada e de culpabilização de Lula pelo agro, pela velha direita, pela Faria Lima e pelo centrão, o que aconteceria?

Donald Trump, presidente dos EUA. Foto: Reprodução

Os que duvidavam que coisas acontecessem desde o golpe contra Dilma podem estar dizendo de novo, mesmo que agora com voz mais baixa, que eles não passarão.

Mas pior do que o engano de que não passam, mas acabam passando, é o que ainda se embevece com a ilusão de que dessa vez haverá reação política com resistência popular. Mesmo que isso seja algo inexistente há décadas.

Se Trump amplificar as ameaças e obtiver resultados reais com danos para o Brasil, o que poderemos fazer? Defender Lula e Alexandre de Moraes nas ruas? Tornar possível e visível uma campanha contra os traidores da pátria?

Organizar o que seria a resistência democrática hoje é repetir um bordão que ficou no século 20 e que sobrevive mais como isso mesmo, como bordão.

Dizer que resistimos em 2023 e evitamos o golpe é conjugar no plural um verbo que uma autoridade pode chamar para si no singular. Alexandre de Moraes evitou o golpe, em 2022 e em 2023. Nós só aplaudimos Moraes.

Para repetir outro brado político de mesa de bar do passado, poderíamos dizer que estamos pensando com pessimismo, para agir com o otimismo dos valentes logo adiante.

O problema é dar forma, como resistência, a esse otimismo de uma ação política que já não funciona mais como funcionou um dia.

Que eles não passem, mesmo que agora fracassem muito mais pela própria incompetência do que pela nossa capacidade de resistir.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/