
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou nesta segunda-feira (21) a abertura de investigação sobre o possível uso de informações privilegiadas em operações no mercado de câmbio antes do anúncio do tarifaço imposto pelos Estados Unidos ao Brasil.
A decisão atende a um pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), que apontou suspeitas de movimentações financeiras atípicas. O caso está relacionado à prática de insider trading, crime que ocorre quando alguém se beneficia de informações ainda não divulgadas ao mercado para obter lucro.
Entre os elementos apresentados, a AGU destacou uma publicação do investidor Spencer Hakimian, fundador da Tolou Capital Management. Em suas redes sociais, Hakimian afirmou desconfiar que alguém obteve ganhos entre 25% e 50% em operações envolvendo o dólar em poucas horas, sugerindo o acesso antecipado à decisão dos EUA sobre as tarifas ao Brasil. Uma reportagem do “Jornal Nacional” reforçou as suspeitas, mostrando que um investidor comprou quase US$ 4 bilhões a R$ 5,46 no dia 9 de julho e, minutos após o anúncio oficial, vendeu a R$ 5,60.
A criminalista Juliana Bertholdi afirmou à CBN que o pedido da AGU para abertura de inquérito indica a existência de indícios fortes sobre as operações suspeitas. Ela destacou que, a partir de agora, o STF deve requisitar informações à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ao Banco Central e às instituições financeiras envolvidas. Também poderá ser autorizada a quebra de sigilos telemáticos para aprofundar as investigações.
Viva o Brasil! pic.twitter.com/WwFswfZO6Y
— Spencer Hakimian (@SpencerHakimian) July 21, 2025
Bertholdi ressaltou ainda que, caso haja participação de investidores estrangeiros, a obtenção de provas pode se tornar mais complexa. Isso porque o acesso a dados fora do país dependerá de cooperação internacional. O inquérito buscará verificar se houve vantagem ilícita por meio do uso de informações privilegiadas que deveriam estar resguardadas até o anúncio oficial.
Além da atuação da AGU e do STF, a bancada do PT na Câmara também se mobilizou sobre o caso. No domingo (20), os deputados petistas encaminharam um pedido formal ao Banco Central para que identifique os responsáveis pelas operações suspeitas no mercado de câmbio. O partido quer explicações sobre a movimentação financeira que antecedeu o tarifaço imposto pelos Estados Unidos.
O caso soma-se a outros episódios que vêm acirrando o ambiente político e econômico entre Brasil e Estados Unidos. As relações bilaterais se deterioraram após a reeleição de Donald Trump e a imposição de tarifas sobre produtos brasileiros, o que também gera impacto direto no mercado financeiro.