Sakamoto: Bolsonaro chama tornozeleira de humilhação porque ainda não conheceu cadeia

Atualizado em 21 de julho de 2025 às 22:56
O ex-presidente Jair Bolsonaro. Foto: Samuel Reis

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Cavalgando a vitimização por ter que usar tornozeleira eletrônica, Jair Bolsonaro deu início ao processo de engajamento de sua militância para protestar contra a sua condenação por tentar um golpe de Estado. O que era esperado.

Daqui até o final do ano, quando uma ordem de prisão deve ser decretada, o objetivo de seus aliados vai ser mostrar que o povo está com ele. O povo está, na verdade, puto com o seu clã porque é em seu nome que Donald Trump ameaça acabar com empregos e renda no Brasil via tarifaço.

Bolsonaro mostrou o equipamento em visita à Câmara dos Deputados hoje. Chamou de “símbolo de máxima humilhação”. Pode-se ponderar que cadeia por tentar um golpe é o real símbolo de máxima humilhação, mas xilindró é algo que está na perspectiva futura, não na experiência pretérita no ex-mandatário. Apesar de momentos de destempero público, Jair se esforça para mostrar que resistir às leis e à Justiça é possível.

Apontou que vai acionar aliados no agronegócio e entre os caminhoneiros para irem às ruas em sai defesa. Certamente, vai arrastar bem mais que 12 mil almas, total que foi à avenida Paulista no último ato por sua impunidade. Não são poucos os que acham que patriota é defender a intervenção dos Estados Unidos em nosso território.

Além disso, caso junte 50 caminhoneiros com tendências golpistas, ele consegue travar São Paulo, ou seja, algo fácil de se fazer.

Mas o naco racional do agronegócio vai demonstrar tendências suicidas graves se abraçar Jair logo no momento em que ele dá uma banana para o café, a laranja, a carne e outros produtos brasileiros que serão sobretaxados pelos EUA em seu nome.

Algo que o ex-presidente demonstra não suportar é a ideia de que suas ações possam ter consequências. A tornozeleira, longe de ser um exagero, é um lembrete de que ele não está acima da lei.

Conspirar com o governo de outro país para atacar o Brasil para que seu julgamento seja interrompido é algo que justifica uma prisão preventiva, mas o STF foi suave com ele. Em um país onde milhares de pobres e negros são presos preventivamente por crimes muito menores, Bolsonaro segue usufruindo de um tratamento privilegiado. O contrário de uma perseguição.

Por fim, um lembrete: a tornozeleira foi pedida pela Procuradoria-Geral da República também diante de um risco de fuga.

Sobre isso, vale lembrar que o ex-presidente ganhou um “oi, sumido” do primeiro-ministro da Hungria nesta segunda (21). O líder de extrema direita Viktor Orbán postou seu apoio a Bolsonaro no X, dizendo que o seu julgamento é por motivação política. Sim, tentar um golpe de Estado é algo bem político.

“Você pode colocar uma tornozeleira eletrônica em um homem, mas não na vontade de uma nação”, disse ele. O DataOrbán está errado. Pesquisas, como o Datafolha, apontam que a maioria dos brasileiros defende a prisão de Bolsonaro por tentativa do golpe.

O “oi, sumido” é porque Bolsonaro transformou a Embaixada da Hungria em Brasília em AirBnb de fuga, passando dois dias muquiado lá em fevereiro do ano passado, após seu passaporte ser apreendido. Quando viu que não seria preso, voltou para casa.

Após Trump dar o sinal através do tarifaço e das sanções a Moraes, era de se esperar que líderes de extrema direita também passassem pano para Jair Bolsonaro e atacar o Brasil. Até porque muitos deram ou tentaram dar golpe em seus países e instituições. É uma confraria que transmite solidariedade pensando em si mesma.