“Show de horrores”: mais de 100 ONGs denunciam “fome em massa” na Faixa de Gaza

Atualizado em 23 de julho de 2025 às 14:12
Palestinos enfrentam restrições alimentares na Faixa de Gaza.Foto: Divulgação

Mais de 100 organizações não governamentais (ONGs) alertaram nesta quarta-feira (23) para o aumento da crise humanitária em Gaza, com uma crescente fome entre os mais de 2 milhões de habitantes do território, após 21 meses de conflito devastador.

De acordo com o comunicado das ONGs, a situação está ficando insustentável, com escassez de alimentos e outros itens essenciais afetando até mesmo os próprios trabalhadores humanitários, que se veem na mesma situação precária que os civis.

Israel enfrenta uma crescente pressão internacional devido à grave situação em Gaza. Mesmo após a abertura de um corredor de alívio em maio, após mais de dois meses de bloqueio, a população da região ainda enfrenta dificuldades extremas para acessar alimentos e outros produtos básicos.

Um vídeo que circula nas redes sociais mostra milhares de pessoas amontoadas à espera de ajuda humanitária no local. Veja:

As organizações humanitárias, incluindo Médicos Sem Fronteiras (MSF), Save the Children e Oxfam, mostraram que suas equipes no terreno estão lutando para atender às necessidades urgentes da população.

A ONU denunciou um cenário de “show de horrores”, revelando na terça-feira (22) que as forças israelenses mataram mais de mil palestinos que tentaram obter ajuda em pontos de distribuição desde o final de maio, quando foi implementada a Fundação Humanitária de Gaza (GHF).

A organização GHF (Gaza Humanitarian Foundation), apoiada por Estados Unidos e Israel, foi responsável por uma parte significativa da distribuição de ajuda, mas, de acordo com as ONGs, a segurança em Gaza tem se tornado um desafio cada vez maior para a entrega de ajuda humanitária.

Em um comunicado, as ONGs ressaltaram que seus próprios colaboradores estão se arriscando para conseguir alimentos, colocando suas vidas em perigo.

“Nossos colegas e aqueles a quem servimos estão morrendo lentamente. Enquanto o cerco do governo israelense causa fome na população da Faixa de Gaza, os colaboradores se somam às mesmas filas para receber alimentos, correndo o risco de serem baleados apenas por tentarem alimentar suas famílias”, disseram as organizações.

A situação desesperadora foi destacada por Mohamed Abu Jabal, um palestino deslocado em Beit Lahia, que relatou: “É um sofrimento alimentar meus filhos. Tenho que arriscar minha vida para levar um saco de farinha para eles”.

Embora o Exército israelense tenha negado que esteja bloqueando o fornecimento de alimentos, Mohamed afirmou que 950 caminhões de ajuda humanitária estão em Gaza aguardando coleta e distribuição por agências internacionais. Contudo, as ONGs insistem que toneladas de ajuda humanitária ainda estão armazenadas, tanto fora quanto dentro de Gaza, impedidas de serem entregues devido às condições de segurança e bloqueios administrativos.

A resposta do governo israelense à crise em Gaza tem sido amplamente criticada, com a ONU e diversas nações pedindo um cessar-fogo e a reabertura dos postos fronteiriços para permitir a entrada de ajuda humanitária de maneira mais eficaz. A morte de crianças palestinas devido à fome e desnutrição foi registrada em hospitais, com imagens emocionantes de pais chorando sobre os corpos de filhos que não resistiram à fome.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, condenou a “destruição sem precedentes” em Gaza, afirmando que o território vive um nível de morte e destruição que nunca foi visto na história recente. A situação se agrava a cada dia, com novos ataques acontecendo regularmente, e a perspectiva de uma solução diplomática ainda parece distante.

Enquanto isso, as negociações entre Israel e o Hamas continuam em um impasse. Desde 6 de julho, o Catar, o Egito e os Estados Unidos têm mediado discussões indiretas para tentar encerrar o conflito, mas os esforços ainda não resultaram em um acordo.

Vinte e cinco países ocidentais pediram o fim imediato da guerra, mas Israel segue com seus ataques, incluindo um recente bombardeio em uma área de Gaza que até então era considerada relativamente segura.