
Depois de registrar altas históricas por mais de um ano, o preço do café moído começou a recuar nos supermercados de São Paulo. Segundo o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) da Fipe, a redução foi de 0,18% na segunda semana de julho. A queda interrompe uma sequência de 16 meses de aumentos, ainda que o valor cobrado pelo produto continue elevado para o consumidor final.
Dados da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostram que o café foi um dos itens que contribuíram para o recuo de 0,52% na cesta básica da região Sudeste em junho. Apesar da recente decisão do governo dos Estados Unidos de elevar tarifas de importação, os efeitos do chamado “tarifaço de Trump” ainda não foram percebidos nos preços nacionais.
Em levantamento feito em oito supermercados das zonas sul e central da capital paulista, o pacote de 500 gramas de café custava em média R$ 37,21. O de 250 gramas saía por R$ 20,91. Em promoções, o preço do meio quilo chegou a R$ 27,99, mas em alguns locais alcançava R$ 44,99. Ainda que os valores estejam recuando, os economistas alertam que o alívio mais visível ao consumidor deve demorar até três meses.
Guilherme Moreira, coordenador do IPC da Fipe, explica que a queda no atacado começou em março, mas só agora começa a chegar ao varejo. “A tendência é de continuidade dessa queda, já que há maior disponibilidade de café nesta safra”, afirma. Em abril, o preço médio do pacote de 500 g era de R$ 33,87. Já o de 250 g estava em R$ 18,89.
Para Felipe Queiroz, economista-chefe da Associação Paulista de Supermercados (Apas), o processo de recuo nos preços será mais visível em breve. “Com a concorrência entre os supermercados, o repasse não deve demorar. Acreditamos que em três meses a queda será mais consistente”, aponta. Marcio Milan, da Abras, concorda com essa projeção, embora diga que ainda é cedo para medir os impactos sobre a cesta básica como um todo.

Segundo Queiroz, o café não deixou de ser comprado, mas houve troca por marcas mais baratas ou por embalagens menores. No Carrefour Express próximo à estação Saúde do Metrô, por exemplo, os pacotes ainda estavam presos por grades antifurto, sinal da escalada recente de preços. O valor médio ali era de R$ 39,76 (500 g) e R$ 21,22 (250 g).
Nos bares e restaurantes, a queda tímida ainda não impactou nos custos operacionais. Joaquim Saraiva, da Abrasel-SP, afirma que os estabelecimentos mantiveram o preço do café abaixo da inflação. “O espresso gourmet custa em média R$ 10. Se tivéssemos repassado integralmente, estaria entre R$ 15 e R$ 18”, diz.
Para ele, a queda atual não representa alívio, já que “0,18% não mexe em nada”. Segundo a Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), os preços altos foram motivados por uma safra anterior com baixa produtividade e aumento de consumo.
Com a nova colheita e maior estabilidade cambial, os valores começaram a cair. A produção de café conilon no Espírito Santo, voltada para exportação, também teve bom desempenho, com queda de 18,4% nos preços em junho, segundo o Cepea.
Por outro lado, o arábica recuou 14,4% no mesmo mês e chegou a R$ 1.834,36 a saca de 60 kg no fim de junho, após atingir R$ 2.738,95 em fevereiro. No entanto, a elevação da tarifa americana para o café brasileiro, de 10% para 50%, gerou apreensão no setor. Segundo o Cepea, a medida afeta diretamente cerca de 25% das exportações brasileiras aos EUA e pode trazer incertezas sobre o escoamento da safra.