Santos processa torcedor e se apequena ao virar capacho de Neymar

Atualizado em 26 de julho de 2025 às 7:09
Momento em que Neymar discute com torcedor na Vila Belmiro. Foto: reprodução

Neymar tem 33 anos. Já disputou Copa do Mundo, Liga dos Campeões, foi protagonista da Seleção Brasileira e acumulou mais dinheiro do que saber emocional para lidar com a crítica mais simples: a do torcedor apaixonado. Na última quarta-feira (23), após mais uma derrota do Santos, desta vez para o Internacional por 2 a 1 na Vila Belmiro, Neymar protagonizou uma das cenas mais constrangedoras de sua carreira: discutiu de maneira agressiva com um torcedor que, legitimamente, o criticava. Mais vergonhoso do que o chilique foi a reação do próprio clube, que preferiu agradar seu “Menino” mimado a respeitar a dor de quem ama o time.

O Santos, clube que foi lesado por Neymar e seu pai na controversa transferência para o Barcelona em 2013 — caso que resultou em processos na Justiça brasileira e espanhola — agora parece não apenas ter perdoado tudo, mas disposto a se ajoelhar aos pés do craque decadente. A diretoria registrou boletim de ocorrência contra o torcedor Alex Sander Silva, alegando uso indevido de ingresso e “ameaça à integridade” de Neymar. Uma ação patética, desproporcional e que mancha ainda mais a imagem de uma agremiação que vive de glórias do passado e submissão no presente.

O torcedor, exaltado, cobrou raça e entrega. Neymar respondeu com gritos, palavrões e arrogância. Mandou o santista “calar a boca” e ainda sugeriu que ele “fosse jogar no lugar dele”. O craque que deveria inspirar e liderar preferiu ofender. O torcedor, por sua vez, mesmo errando no tom, reconheceu o excesso e se desculpou. Mas para o Santos, a prioridade não é proteger quem paga ingresso e sofre com a má fase — é blindar o ego ferido de uma estrela que não brilha mais.

O episódio seria apenas mais uma rusga entre ídolo e arquibancada, não fosse a decisão covarde da diretoria santista. Em vez de tratar o caso com diálogo e maturidade, o clube resolveu criminalizar o torcedor. O mesmo clube que deixou Neymar sair pela porta dos fundos há uma década, sem retorno financeiro justo, agora age como se o atacante ainda fosse patrimônio intocável. Não é. Hoje, Neymar é símbolo de uma geração de jogadores que querem aplausos sem desempenho, idolatria sem entrega e imunidade à crítica.

Neymar ainda se vê como o dono do Santos — e o pior: o clube confirma essa sensação ao tratá-lo como tal. O Santos está na zona de rebaixamento, voltou da Série B no início do ano e joga um futebol desorganizado, sem alma. O torcedor está no limite da paciência. E ao criminalizá-lo por cobrar quem deve em campo, o clube dá um tapa na cara da própria história. A crítica não é crime. O que é criminoso é o abandono do respeito ao torcedor em nome do ego de um jogador em declínio.

Se o Santos não consegue mais se impor nem diante de Neymar, o que dirá contra o rebaixamento, que está cada vez mais claro em um clube que se apequena diante de um bebê chorão.

CONFIRA A NOTA DO SANTOS FC

“O Santos Futebol Clube informa que já adotou as providências necessárias para apurar os fatos ocorridos durante a partida contra o Internacional, realizada na Vila Belmiro, envolvendo o atleta Neymar da Silva Santos Jr. e o Sr. Alex Sander Silva. A apuração interna identificou possíveis irregularidades na aquisição do ingresso pelo sr. Alex Sander Silva, que acessou o estádio utilizando documentos que não lhe pertencem, conforme registros do programa Sócio Rei e do sistema de biometria.

Ressalta-se, inclusive, que ele não é sócio do Santos Futebol Clube. Diante disso, o Clube registrou boletim de ocorrência nesta sexta-feira (25) e comunicou o caso às autoridades competentes, que darão prosseguimento à investigação. A medida foi tomada em conformidade com o que rege o Estatuto do Torcedor, que prevê a responsabilização de indivíduos que utilizem meios fraudulentos para ingresso em eventos esportivos. Reiteramos que a implementação do sistema de reconhecimento facial visa garantir a segurança e integridade de atletas, colaboradores e torcedores que frequentam o estádio para trabalhar ou apoiar o Santos Futebol Clube.

A agremiação aguardará a apuração da Polícia Civil para fazer novas manifestações sobre o caso”.

Luan Araújo
Jornalista formado em 2012, morador da periferia da Zona Leste de São Paulo, sambista e corintiano.