Venezuela impõe tarifas de até 77% sobre exportações do Brasil e ameaça acordos

Atualizado em 26 de julho de 2025 às 7:58
Venezuela decide cobrar tarifas do Brasil, que podem ir a 77%
O presidente da Venezuela, Nicolas Maduro. Foto: Reprodução

A Venezuela surpreendeu o governo brasileiro ao impor tarifas de até 77% sobre produtos exportados do Brasil, mesmo aqueles com certificados de origem que, por acordo firmado em 2014, deveriam estar isentos.

A medida afeta diretamente alimentos como arroz, milho e açúcar, e foi tomada sem qualquer justificativa oficial por parte do governo de Nicolás Maduro.

Em 2024, o Brasil exportou cerca de US$ 1,2 bilhão (R$ 6,5 bilhões) para a Venezuela e importou US$ 422 milhões (R$ 2,2 bilhões), registrando um superávit de quase US$ 778 milhões (R$ 4,3 bilhões). Agora, empresários de Roraima — estado mais impactado — relatam que os demais países do Mercosul, como Argentina, Paraguai e Uruguai, também foram atingidos pela retomada da cobrança.

O presidente da Câmara Venezuelana-Brasileira de Comércio de Roraima, Eduardo Oestreicher, afirmou que a isenção desses produtos era prevista e deveria ser encerrada gradualmente, ao longo dos anos. Maduro, no entanto, decidiu retomar a cobrança.

“Na sexta-feira, dia 18, fomos surpreendidos com a cobrança total do imposto ad valorem (cobrado sobre o preço do produto). Não sabemos se foi por razão política, técnica ou se foi um erro deles”, disse. Ele também afirmou ter solicitado apoio da Embaixada do Brasil em Caracas para esclarecer o motivo da decisão.

Relações abaladas

As relações diplomáticas entre Brasil e Venezuela estão estremecidas desde julho de 2024, quando o governo brasileiro decidiu não reconhecer o resultado das eleições presidenciais vencidas por Nicolás Maduro. A oposição venezuelana contestou o pleito, e o governo Maduro nunca apresentou documentos que comprovassem sua vitória.

O mesmo ocorreu na relação com a Argentina, cuja embaixada venezuelana passou a ser gerida por autoridades brasileiras.

Governo Lula tenta manter diálogo com Maduro evitando críticas em meio à repressão à oposição
Os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Nicolás Maduro. Foto: Reprodução

Outro ponto de atrito foi a exclusão da Venezuela do bloco Brics. Em uma cúpula realizada na Rússia, o governo brasileiro barrou o ingresso de Maduro no grupo, o que teria gerado forte irritação no governo venezuelano. Além disso, a Venezuela está suspensa do Mercosul desde 2016 por violação da cláusula democrática, o que também pode ter motivado a retomada da tarifação.

Em nota divulgada nesta sexta-feira (25), o Ministério das Relações Exteriores afirmou que acompanha, em conjunto com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), os relatos sobre as dificuldades enfrentadas por exportadores brasileiros.

“A Embaixada do Brasil em Caracas está apurando, junto às autoridades venezuelanas responsáveis, elementos para esclarecer a natureza da situação, com vistas à normalização da fluidez no comércio bilateral”, informou o Itamaraty.