
Como um senador com distúrbios mentais, que saiu da classe média baixa em Vitória (ES), serviu ao Exército e depois montou, supostamente, uma empresa de treinamento tático hoje tem R$ 50 milhões em bens bloqueados por ordem do Supremo Tribunal Federal?
A pergunta ganhou novo peso na sexta-feira (25), quando o ministro Alexandre de Moraes determinou o bloqueio de contas bancárias, chaves Pix, salários e outros ativos do senador Marcos do Val (Podemos-ES), após o parlamentar descumprir medidas cautelares. Sua filha também foi alvo das medidas.
Ele viajou para os EUA em plena investigação, utilizando passaporte diplomático, apesar da decisão judicial que havia determinado sua apreensão.
Do Val não é herdeiro. Atuou como militar no 38º Batalhão de Infantaria, em Vila Velha. Fundou o Centro Avançado em Técnicas de Imobilizações (CATI), empresa especializada no treinamento de agentes de segurança. A biografia do bolsonarista é cascateira: segundo ele, a empresa teria capacitado membros da SWAT, do FBI, da Nasa, dos Navy SEALs e até da guarda do Vaticano.
As alegações nunca foram comprovadas por documentos públicos, contratos oficiais ou registros em órgãos de controle. O site do CATI, por exemplo, não informa nomes de clientes, valores de contratos ou filiais no exterior. Também não há registros conhecidos de licitações públicas com valores expressivos que expliquem tamanha fortuna. Do Val é mitômano, mas não rasga dinheiro.
Um senador da República recebe salário bruto de pouco mais de R$ 44 mil por mês. Mesmo considerando vencimentos anteriores como instrutor ou palestrante, o salto para dezenas de milhões é difícil de justificar sem receitas empresariais significativas e comprovadas.
As declarações patrimoniais entregues à Justiça Eleitoral em 2018 e 2022 não indicavam valores nessa escala.
Marcos do Val enfrenta suspeitas de tentar atrapalhar investigações sobre a trama golpista de 8 de janeiro. Ele é acusado de tentar intimidar agentes da Polícia Federal — e viajou para os Estados Unidos durante o recesso parlamentar, sem autorização judicial.
Do Val diz ter credenciais como mestre de aikido reconhecidas internacionalmente. Mas também nesse ponto faltam provas públicas. Especialistas da área já questionaram a veracidade de alguns desses títulos.
A Polícia Federal precisa entender melhor esse gênio dos negócios.