
Enquanto acompanha de longe a situação judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o governo Lula (PT) concentra esforços em minimizar os efeitos do “tarifaço” anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que prevê a taxação de 50% sobre produtos brasileiros a partir desta sexta-feira (1º). Com as negociações estagnadas, o Planalto já trabalha com o “pior cenário” e estuda medidas emergenciais para proteger empresas e empregos.
Segundo o Ministério da Fazenda, pelo menos 10 mil empresas brasileiras serão diretamente impactadas pelas novas tarifas. Diante da falta de resposta dos EUA às tentativas de diálogo, Lula e sua equipe afirmam publicamente que estão “tentando dialogar”, o governo discute com o setor privado a criação de uma linha de crédito especial para os segmentos mais afetados.
A ideia é oferecer financiamento facilitado, seja por meio de um fundo privado ou com recursos públicos, para empresas que comprovarem queda na receita devido às tarifas.
O setor industrial já alertou: sem medidas de contenção, o “tarifaço” pode custar 110 mil empregos. Para evitar um colapso no mercado de trabalho, o governo planeja um programa emergencial semelhante ao adotado durante a pandemia de covid-19 em 2020, conforme adiantou o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) em reunião com representantes do agronegócio.
Empresários pressionam por um adiamento da medida. Em encontros com o governo, entidades como a CNI (Confederação Nacional da Indústria) classificaram o prazo atual como “inexequível” e sugeriram um período de 90 dias para aprofundar as negociações.
O pedido foi levado aos EUA por Alckmin, que conversou no sábado (19) com o secretário de Comércio estadunidense, Howard Lutnick. Embora o vice-presidente não tenha detalhado o diálogo, fontes revelaram que foi solicitada uma extensão do prazo ou redução da taxa, sem retorno até o momento.

Auxiliares de Lula avaliam que a crise tarifária pode definir não apenas os rumos da economia, mas também a estabilidade do governo. Por enquanto, o presidente mantém boa imagem ao defender a “soberania nacional”, mas petistas admitem que, se as tarifas persistirem e frearem a recuperação econômica, a culpa recairá sobre o Executivo.
Enquanto isso, o Planalto monitora discretamente o desfecho do processo contra Bolsonaro no STF (Supremo Tribunal Federal). Ministros brincam que têm “dores de cabeça maiores” do que uma eventual prisão do ex-presidente, mas estrategistas reconhecem seu potencial de mobilização. Apesar da inelegibilidade até 2030, Bolsonaro segue como única figura com base eleitoral comparável à de Lula.
Para aliados do governo, a interferência de Trump — que vinculou o “tarifaço” ao apoio a Bolsonaro — acabou por isolar os bolsonaristas e fortalecer Lula entre moderados. “Ao criar toda essa questão usando o ex-presidente como justificativa, Trump jogou o centrão no colo de Lula”, avalia um governista.
Na semana passada, o petista adotou tom mais agressivo e afirmou pela primeira vez que Bolsonaro pode “ir pro xilindró” se a Justiça decidir com base nas provas do processo.