Na contramão do mundo, democracia avança no Brasil com Lula, aponta estudo global

Atualizado em 26 de julho de 2025 às 16:13
O presidente Lula com boné “O Brasil é dos brasileiros”. Imagem: reprodução

Enquanto a maior parte do mundo enfrenta o avanço do autoritarismo, o Brasil é citado como uma exceção. Segundo o Relatório da Democracia 2025, produzido pelo Instituto Variedades de Democracia (V-Dem), com sede na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, o país é um dos poucos que reverteram a tendência de autocratização. O estudo é considerado a principal referência global sobre o estado das democracias.

De acordo com o levantamento, hoje existem 88 democracias e 91 autocracias no mundo. Pela primeira vez em mais de meio século, a maioria da população global vive sob regimes autoritários.

O relatório destaca que o Brasil começou a perder qualidade democrática após o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e aprofundou esse processo durante o governo de Jair Bolsonaro (2019–2022). Ainda assim, o país conseguiu evitar o colapso democrático. “O Brasil enfrentou uma forte crise, mas se recuperou antes de se tornar um regime autoritário”, analisa Tiago Fernandes, diretor do V-Dem Europa do Sul.

Três fatores são apontados como decisivos para essa resistência: a mobilização da sociedade civil, a atuação do Poder Judiciário — com destaque para as ações do STF contra os responsáveis pela tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023 — e a formação de uma frente política pró-democracia, que incluiu partidos do centrão que se afastaram de Bolsonaro nas eleições de 2022, viabilizando a vitória de Lula.

Apesar dos avanços, Fernandes alerta que a ameaça autoritária não está extinta e pode ressurgir sob uma nova liderança populista. Ele também vê ambiguidade no posicionamento internacional do governo Lula: embora o Brasil tenha se alinhado com o Chile na defesa da democracia latino-americana, ainda mantém laços com regimes autoritários como Rússia, China e Irã por meio do BRICS.

O relatório também rebate críticas comuns ao STF, especialmente à atuação do ministro Alexandre de Moraes. Para Fernandes, essas acusações fazem parte de um discurso simplista, típico de movimentos autoritários. “É uma narrativa de ódio, que divide o mundo entre amigos e inimigos. Alimenta versões paralelas da realidade”, diz.

Na avaliação de Fernandes, a volta de Bolsonaro ao poder é improvável. “O movimento político que ele liderava foi desmantelado. Ao contrário dos Estados Unidos, onde Trump não só não foi preso como voltou à presidência, no Brasil Bolsonaro está sendo julgado e pode ser condenado”, afirmou. Ainda assim, ele alerta: “Esse tipo de movimento autoritário pode ressurgir com outro nome e outro rosto. Por isso, é essencial manter vigilância constante sobre as instituições democráticas”.

O clima se intensificou com a ameaça do presidente dos EUA, Donald Trump, de impor tarifas de 50% aos produtos brasileiros caso Jair Bolsonaro não seja anistiado.

O estudo do V-Dem analisa mais de 600 indicadores em 202 países desde 1789, com participação de 4.200 especialistas. Na América Latina, o Brasil figura entre os cinco países em processo de redemocratização, junto com Bolívia, Equador, República Dominicana e Honduras. Em contrapartida, sete países da região estão em regressão democrática, entre eles Argentina, El Salvador, México e Peru.

A edição de 2025, publicada também em português, inclui pela primeira vez uma seção dedicada aos países lusófonos, ampliando o alcance das análises para além do eixo Europa–Estados Unidos.