“Turismo de guerra”: como a Ucrânia recruta mercenários brasileiros na web

Atualizado em 27 de julho de 2025 às 10:05
Os brasileiros André Kirvaitis, André Hack e Leanderson Paulino, em combate pela Ucrânia. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Brasileiros têm sido recrutados pelas redes sociais para lutar como voluntários na guerra entre Ucrânia e Rússia. A estratégia, chamada de “tour mais perigoso da Europa”, promete facilitação de documentos, apoio logístico e até treinamento militar. Os interessados precisam arcar com os custos da viagem e manter segredo sobre o destino, inclusive para a família. Com informações do G1.

Nesta semana, a família de Gabriel Pereira, de 21 anos, morador de Minas Gerais, confirmou que ele morreu em combate próximo à fronteira russa. O jovem foi aliciado no início do ano e viajou por conta própria. Os pais e o irmão seguem sem notícias do corpo e afirmam não ter recebido auxílio do governo ucraniano. Outro brasileiro, Gustavo Viana Lemos, de 31 anos, ex-militar da Marinha, também se voluntariou e teria morrido em missão, segundo relatos de amigos, embora não haja confirmação oficial.

O Ministério das Relações Exteriores informou que nove brasileiros já perderam a vida no conflito e 17 continuam desaparecidos. A maioria dos casos envolve voluntários atraídos por promessas de apoio que não se concretizam ao chegarem ao país.

Gabriel Pereira, morto na guerra e Gustavo Viana Lemos ainda desaparecido. Fotomontagem: Reprodução/Redes Sociais

Gabriel trabalhava como cobrador de ônibus em Belo Horizonte e pagou cerca de R$ 3 mil para fazer a viagem. Ele desembarcou em Varsóvia, na Polônia, em março de 2025, e seguiu para Kiev, onde deveria cumprir protocolos burocráticos antes de ingressar no exército ucraniano.

De acordo com o irmão, João Victor Pereira, a promessa de treinamento não foi cumprida. Assim que chegou à capital, Gabriel foi encaminhado para posições de combate direto com tropas russas. Ele serviu em diferentes regiões do país e sempre em missões de alto risco.

A família afirma que não sabia do alistamento voluntário. Apenas três semanas após sua chegada à Europa descobriram que Gabriel estava na guerra. Ele mantinha contato frequente até 3 de julho, quando relatou que seria enviado a uma das áreas mais perigosas do front.

Sem garantias de segurança e sob promessas enganosas, muitos acabam sendo enviados rapidamente para zonas de confronto direto. Segundo os parentes, Gabriel partiu para as missões sem passaporte e sem preparo militar adequado. Desde então, está desaparecido.

Lindiane Seno
Lindiane é advogada e moderadora das lives no DCM.