O começo do esfacelamento da extrema direita. Por Moisés Mendes

Atualizado em 27 de julho de 2025 às 23:17
O deputado foragido Eduardo Bolsonaro. Foto: Divulgação

Muitos, e não só os alcançados por Alexandre de Moraes, vão tombar na extrema direita antes e durante a campanha eleitoral de 2026. Serão os comidos pelo processo de autofagia do fascismo, em meio aos ataques de Trump e às tensões internas pela sucessão de Bolsonaro.

Alguns comerão, outros serão comidos, na reacomodação das estruturas de comando, dos quadros intermediários, dos mandatos e das bases bolsonaristas. O líder dessa reacomodação forçada, que não se orienta por nenhuma racionalidade, é o deputado foragido Eduardo Bolsonaro.

Eduardo atira em Tarcísio de Freitas, por temer de que o extremista moderado possa liderar o bolsonarismo sem Bolsonaro. Atira em Nikolas pela inveja da radicalidade de resultados do transfóbico da peruca. E desqualifica Zema e Caiado por enxergá-los pelo que são, como oportunistas sem berço bolsonarista.

Outros, mesmo que não sejam alvos de Eduardo, tombarão na disputa de espaços na extrema direita raiz. Porque muitos, sem essa base que vem de 2018, não irão prosperar em 2026.

O ônibus do fascismo, considerando-se também a reacomodação do eleitorado depois da crise provocada por Trump, pode estar lotado demais. Há muita gente do bolsonarismo exacerbado num espaço que deve ser redimensionado, com a perda de alguns latifúndios.

O movimento feito pelo deputado Helio Lopes, tentando rearmar barracas em Brasília, como fizeram em 2022 e 2023, estava no contexto dessa reacomodação. É preciso, desesperadamente, fidelizar e acordar a base mais inflexível através do resgate da memória dos acampamentos. Mas quem é Helio Lopes no teatro da extrema direita?

A bancada do PL de Lopes saltou de 76 deputados em 2018 para 99 em 2022, pelo vínculo do partido ao arrendatário que tentava a reeleição. Bancadas da extrema direita cresceram em Assembleias e Câmaras de Vereadores de todo o país. Em São Paulo, o bolsonarismo engoliu o tucanismo.

A depuração resultará do acúmulo de crises, desde a derrota na eleição de 2022, do golpe fracassado e, agora, das invertidas que o bolsonarismo levou com as chantagens de Trump. É também uma crise de autoestima.

Com a dispersão de referências na direita, com o grande número de postulantes à missão de enfrentar Lula e com os rachas daí decorrentes, o bolsonarismo enfrenta o drama das grandes facções da política, do tráfico e da bandidagem em geral.

Bolsonaro e seus apoiadores. Foto: Divulgação

Não se sabe hoje, e se saberá menos ainda nos próximos meses, quem irá assumir o lugar do chefão que estará fora do jogo no meio da primavera. A bandidagem miúda já está em guerra pelo ponto.

As engrenagens da direita poderão estar, a partir da condenação e prisão de Bolsonaro, muito mais nas mãos acomodadoras dos espertalhões pragmáticos, começando pelos que comandam o Congresso – Davi Alcolumbre e Hugo Motta, como aprendiz e como professor –, e passando pelos rebanhos sob a liderança de Gilberto Kassab, do que nas mãos e sob a gritaria do bolsonarismo.

O centrão pode se libertar das más influências, a direita que ainda finge ser de centro pode voltar ao seu leito natural, como se fosse a velha Arena, e a extrema direita talvez se veja bem menor do que já foi desde a chegada de Bolsonaro ao poder.

O bolsonarismo só não sairá alquebrado dessa sequência de desastres, se Trump conseguir fazer com a ajuda dos Bolsonaros o que os Bolsonaros tentaram e fracassaram com a ajuda dos manés no 8 de janeiro. E se Lula estiver muito fraco.

Se a família Bolsonaro for para Trump o que os manés não conseguiram ser para eles e os generais, e disseminarem o caos na economia, com desdobramentos políticos graves, a extrema direita segue em frente.

Se Trump sobreviver ao cerco da própria base fascista e intensificar e ampliar os ataques ao Brasil. Se Lula se enredar na tentativa de reação. E se os brasileiros assistirem tudo de longe, como fizeram quando do golpe contra Dilma e quando do encarceramento de Dilma, aí tudo pode acontecer. Até um golpe liderado pelo deputado Helio Lopes.

Mas aí, se esse for o cenário, poderemos desistir de tudo e pedir desculpas a Alexandre de Moraes e a Lula pela covardia de um país que os deixou lutando sozinhos.

Vamos pensar e agir positivamente e fazer o possível para que o fascismo se fracione, se disperse e, numa autofagia radical, coma o que ainda resta da própria cabeça.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/