
Uma comitiva de senadores brasileiros desembarcou em Washington com o objetivo de aliviar as tensões com os Estados Unidos, em meio à ameaça de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor no dia 1º de agosto.
A missão busca interlocução com parlamentares e empresários americanos, mas evita divulgar com antecedência os nomes dos congressistas com quem pretende se reunir. Segundo o senador Nelsinho Trad (PSD-MS), que lidera o grupo, a decisão de manter a agenda em sigilo é estratégica.
“Essa reunião está previamente marcada para amanhã, nós já temos seis parlamentares confirmados. A proximidade dela, alguns outros já estão entrando em contato e a gente está aguardando até em função de uma estratégia essa informação para que não haja nenhuma interferência no sentido de inibir ou cancelar qualquer agenda previamente marcada”, afirmou ele nesta segunda-feira (28) na embaixada do Brasil em Washington.
Nos bastidores, no entanto, o clima é de cautela. Fontes ligadas à comitiva confirmaram que o temor de interferência partiu de episódios anteriores, quando o deputado federal Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo teriam atuado para bloquear agendas de senadores com o Departamento de Estado dos EUA e com o senador republicano Rick Scott.

A atuação do grupo bolsonarista nos Estados Unidos visa pressionar a Casa Branca a impor sanções comerciais ao Brasil como forma de forçar o perdão judicial ao ex-presidente Jair Bolsonaro e seus aliados, atualmente réus por tentativa de golpe de Estado e outros crimes.
Trump, que trata o caso como “caça às bruxas”, teria incluído o julgamento de Bolsonaro como justificativa para o tarifaço. A retórica política, porém, esbarra na estrutura legal brasileira.
Os processos contra o ex-presidente tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF) e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base em investigações da Polícia Federal, e sem qualquer possibilidade de intervenção do Executivo federal. Ainda assim, Trump condiciona a negociação tarifária ao arquivamento das ações judiciais.
Apesar dos esforços da comitiva, os senadores admitem que há pouco espaço para reverter a medida a tempo. “Eu acho que não [pode reverter o deadline de 1º de agosto]. O que a gente está fazendo é a diplomacia parlamentar. É preciso que os governos se entendam. A gente está aqui para contribuir”, disse o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).
Nesta segunda-feira (28), os oito senadores brasileiros têm encontro marcado com empresários na ‘Chamber of Commerce’ dos Estados Unidos. A expectativa de diálogo direto com integrantes do governo americano, no entanto, é baixa.