
O tenente-coronel Hélio Ferreira Lima declarou ao Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira (28) que o documento “Desenho Op Luneta”, que previa a prisão de ministros da Corte, foi elaborado como parte de exercícios de inteligência da 6ª Divisão do Exército em Porto Alegre. O militar, que atuava como oficial de inteligência, integra o grupo de militares conhecidos como “kids pretos” e é réu no inquérito sobre a trama golpista, afirmou que o material consistia em um estudo hipotético para eventual fraude eleitoral em 2022.
“Se amanhã sair um relatório ou um pronunciamento falando ‘atenção, teve fraude sim’, eu não posso deixar meu comandante ser surpreendido. Eu tenho que ter alguma coisa para que a gente comece a discutir com o Estado-Maior”, explicou Ferreira Lima sobre a finalidade do documento encontrado em pen drive apreendido pela Polícia Federal.
O “Desenho Op Luneta” continha diretrizes como “restabelecer a lei e a ordem por meio da retomada da legalidade” e mencionava especificamente a “neutralização da capacidade de atuação do Min AM”, referência ao ministro Alexandre de Moraes, além de prever prisões de ministros do STF considerados “geradores de instabilidade” e a organização de novas eleições presidenciais.

O militar contestou a interpretação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que vê no documento evidência de planejamento golpista.
“É um cenário totalmente hipotético. Ele não fala em eliminar ninguém, ele é amparado por normas legais”, argumentou Ferreira Lima, acrescentando que o material precisaria ser validado por um general para se tornar diretriz operacional.
Segundo seu depoimento, o documento foi abandonado após orientação superior. “Eu não estava fazendo nada oculto. Surgiu de uma conversa com meu comandante […] Quando fui apresentar para ele, a prioridade já era outra. Ele mandou eu abandonar isso”, relatou o tenente-coronel, explicando que o foco passou a ser a retirada de manifestantes diante do quartel em Porto Alegre.
A PF identificou troca de mensagens consideradas suspeitas entre ele e Mauro Cid, além de um encontro com o ex-ministro Walter Braga Netto em novembro de 2022, que o militar afirma não ter tido conteúdo golpista.
Nove outros acusados prestaram depoimento ao STF no mesmo dia: os coronéis Bernardo Romão Correa Neto, Fabrício Moreira de Bastos e Márcio Nunes de Resende Júnior; o general da reserva Estevam Theophilo; os tenentes-coronéis Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo, Ronald Ferreira de Araújo Júnior e Sérgio Ricardo Cavaliere; e o policial federal Wladimir Matos Soares.
A PGR mantém que o documento revela “planejamento prévio” que antecipava “desde os ataques ao processo eleitoral até a concretização do golpe de Estado”. Já a defesa do militar sustenta que se tratava de exercício profissional previsto em manuais do Exército para análise de cenários extremos.