Casal de agentes larga a PF, vira vizinho de Eduardo nos EUA e preocupa corporação; entenda

Atualizado em 1 de agosto de 2025 às 7:32
Eduardo Bolsonaro em Arlington, nos EUA. Foto: reprodução

Dois agentes da Polícia Federal brasileira, especialistas em inteligência, estão vivendo nos Estados Unidos após pedirem licença não remunerada da corporação em abril e maio deste ano. André de Oliveira Valdez e Letícia da Cunha Padilha, que são casados, trocaram Brasília por Arlington, no Texas, mesma cidade em que reside atualmente o deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Com informações do Intercept Brasil.

A mudança levantou preocupações dentro da própria PF e entre especialistas em segurança, que temem possível vazamento de informações sensíveis ao governo estadunidense e ao núcleo bolsonarista.

Valdez e Padilha atuavam na Diretoria de Inteligência Policial (DIP), setor estratégico da PF que conduz investigações sigilosas como a da tentativa de golpe e o esquema da Abin Paralela. Segundo relatos de agentes da corporação ouvidos sob anonimato, Valdez chegou a participar da varredura feita no Tribunal Superior Eleitoral antes da posse de Alexandre de Moraes, em 2022.

Um servidor da PF confirmou que ele era o responsável por identificar escutas ilegais em gabinetes públicos. Já Padilha exercia função de confiança no setor de prospecção de ferramentas de inteligência, mesmo sendo considerada “contaminada” pelo bolsonarismo por colegas da DIP.

André Valdez, deputado Sanderson e Letícia da Cunha Padilha durante visita ao Congresso em 2019. Foto: reprodução

A presença do casal em Arlington, cidade com cerca de 400 mil habitantes na região metropolitana de Dallas, passou a ser vista com mais atenção após publicações nas redes sociais indicarem que os dois vivem a poucos minutos de locais frequentados por Eduardo Bolsonaro e sua esposa, Heloísa.

Valdez chegou a atualizar seu perfil no LinkedIn, onde se apresenta como agente federal especializado em operações de vigilância secreta. Ambos deixaram seus cargos na Polícia Federal após a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais estadunidenses.

A DIP é considerada um dos setores mais sensíveis da PF, por centralizar investigações de grande impacto político. “Um vazamento por parte da DIP é do maior grau de risco que se pode imaginar em termos de investigações conduzidas pela PF”, alertou André Ramiro, pesquisador visitante do Digital Civil Society Lab da Universidade de Stanford.

Segundo o Intercept, Valdez negou envolvimento em qualquer trama e reclamou da exposição de sua vida pessoal. “Você está insinuando que eu estou envolvido de alguma forma nessa trama. Não tem motivo de expor a mim e a minha família”, disse, por mensagem.

Já Letícia Padilha, além de atuar na DIP durante os governos Bolsonaro e Lula, é filha de militar da reserva, apoiadora declarada de Jair Bolsonaro e filiada ao União Brasil desde 2020. No ano passado, comemorou nas redes sociais a vitória de Donald Trump com o hino estadunidense.

Internamente, manifestava insatisfação com as operações da PF contra golpistas. Seu ex-chefe na DIP, delegado Alessandro Moretti, foi indiciado no inquérito da Abin Paralela por envolvimento em espionagem ilegal durante o governo Bolsonaro.

A Polícia Federal informou que os dois agentes estão em licença não remunerada por “interesse particular” e que, nessa condição, não têm acesso a sistemas ou ativos de informação da instituição.