Veja como a lei brasileira pode proteger empregos do tarifaço de Trump

Atualizado em 1 de agosto de 2025 às 9:13
Manifestação organizada pelo Sindicato dos Comerciários de São Paulo contra o tarifaço de Trump. Foto: Danilo Verpa

Após o tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos brasileiros, especialistas destacam que a legislação brasileira já oferece alternativas para preservar empregos e reduzir os impactos nas empresas afetadas, conforme informações da Folha de S.Paulo.

Medidas como layoff, férias coletivas, antecipação de feriados, banco de horas, contrato de trabalho intermitente, teletrabalho e redução proporcional de salário e jornada podem ser aplicadas por meio de negociação entre empresas e sindicatos.

O decreto assinado por Trump excluiu 700 itens da lista, mas manteve a sobretaxa para setores como agronegócio — especialmente café e carne —, além de máquinas, implementos agrícolas e a indústria do plástico. A expectativa é de prejuízos e demissões, especialmente em setores formais e com bons salários.

“A possível retração da demanda externa gerada pelas tarifas pode levar a um aumento no desemprego justamente nas áreas mais estruturadas do mercado de trabalho”, afirma Hélio Zylberstajn, professor sênior da FEA/USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo) e coordenador do Salariômetro da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Carteira de Trabalho digital passará a ser o principal documento para registro - Governo do Estado do Ceará
Carteira de Trabalho. Foto: Reprodução

A seguir, veja as principais políticas disponíveis na legislação trabalhista brasileira:

1. Redução proporcional de jornada e salário

  • Base legal: Lei nº 14.020/2020, transformada em política permanente.
  • Como funciona: Redução da jornada e do salário por até 90 dias, com obrigação de manutenção do emprego pelo mesmo período.
  • Negociação: Exige acordo entre empresa e sindicato.
  • Benefício: Preserva empregos e permite compensação pelo governo via seguro-desemprego.
  • Validação: Política considerada constitucional pelo STF.

2. Layoff (suspensão temporária do contrato)

  • Base legal: Lei nº 4.923/65.
  • Como funciona: Suspende o contrato de trabalho por até cinco meses. O empregador não paga salário, mas deve oferecer qualificação profissional.
  • Compensação: O trabalhador pode receber bolsa semelhante ao seguro-desemprego.
  • Requisitos: Aprovado pelo sindicato e informado ao MTE.
  • Compromisso: Após o layoff, o trabalhador deve ser mantido no cargo pelo mesmo período da suspensão.

3. Férias coletivas

  • Como funciona: Concedidas a todos os empregados de um setor ou empresa.
  • Regras: Máximo de duas por ano, com duração mínima de 10 dias. Aviso com 15 dias de antecedência ao trabalhador, sindicato e MTE.
  • Pagamento: Feito até dois dias antes, com adicional de 1/3.
  • Aplicação: Também pode ser usada para empregados com menos de 12 meses.

4. Banco de horas

  • Como funciona: Permite compensar horas extras ou faltas dentro de um período definido.
  • Regras: Até 6 meses para acordos individuais e até 12 meses para acordos coletivos.
  • Aplicação reversa: Pode ser usada para folgas antecipadas com compensação futura.

5. Contrato de trabalho intermitente

  • Base legal: Reforma trabalhista de 2017.
  • Como funciona: O trabalhador é convocado por demanda, com direito a recusas.
  • Direitos: Recebe proporcional a salário, férias, 13º, FGTS e INSS.
  • Exigências: Registro em carteira e convocação com 3 dias de antecedência.

6. Teletrabalho (home office)

  • Como funciona: O empregado trabalha remotamente, conforme regras do contrato.
  • Custos: Podem ser compartilhados conforme negociação com o sindicato.
  • Regras: Acordo sobre jornada e estrutura deve estar detalhado no contrato.

7. Antecipação de feriados

  • Como funciona: Usada na pandemia, pode ser aplicada via acordo coletivo.
  • Objetivo: Antecipar feriados para reduzir a jornada atual e compensar depois.
  • Regras: Precisa respeitar direitos fundamentais e liberdade religiosa.

Essas políticas são ferramentas legais já disponíveis e fortalecidas após a reforma trabalhista de 2017 e decisões do STF. Segundo especialistas, a adoção de medidas negociadas é fundamental para atravessar o impacto das tarifas sem elevar o desemprego.