
As tarifas de 50% impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros não conseguiram até agora libertar Jair Bolsonaro da prisão domiciliar, mas criaram oportunidades para as grandes empresas de tecnologia ampliarem sua influência em Brasília.
As conversas incluíram discussões sobre o impacto das tarifas e sobre mudanças na regulação de redes sociais e inteligência artificial.
O Brasil, que se tornou referência mundial no combate à desinformação online, mantém regras rigorosas: o STF decidiu em junho que plataformas podem ser responsabilizadas por publicações ilegais e devem monitorar conteúdos patrocinados.
A postura firme, liderada pelo ministro Alexandre de Moraes, gerou embates com as empresas, que acusam o país de impor normas vagas e pesadas.
Essas empresas, que vinham cortejando Trump de forma intensa, agora contam com nova influência nos corredores do poder em Brasília. Diante de uma tarifa de 50% sobre produtos-chave brasileiros, representantes dessas companhias passaram a ser recebidos por autoridades e ministros do Supremo, enquanto são elaboradas novas regulamentações sobre temas que vão de discurso online a inteligência artificial, segundo pessoas com conhecimento do assunto.
“Tudo parece fazer parte do ‘acordo’”, disse Anupam Chander, professor de Direito e Tecnologia da Universidade de Georgetown. “O que antes seria visto como política doméstica brasileira de repente vira parte de uma agenda comercial.”
Um dia antes de as tarifas entrarem em vigor, empresas como Google e Meta se reuniram com Alckmin, com participação remota de um representante do secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. O encontro, segundo um integrante do governo, foi para mostrar que o Brasil estava disposto a dialogar com o setor.
Após a reunião, o governo brasileiro propôs criar um grupo de trabalho sobre regulação, inovação e investimentos no setor de tecnologia, mencionando centros de dados como possível área de cooperação.
“Essa questão de regular as big tech e as redes sociais está sendo discutida no mundo inteiro”, disse Alckmin. “Então, vamos aprender. Onde foi implementado? O que funcionou? O que gerou críticas? Não devemos ter pressa.”
Trump alega que as regras brasileiras censuram vozes conservadoras e prejudicam companhias dos EUA. Inicialmente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou as tarifas de “chantagem” e prometeu endurecer ainda mais a fiscalização, mas na última semana Alckmin indicou abertura para negociar.
A disputa ocorre num mercado de 212 milhões de brasileiros, altamente conectados e estratégico para a indústria de tecnologia. Especialistas apontam que, se as Big Tech conseguirem suavizar as regras, Trump poderá conquistar uma vitória significativa na sua política comercial — ainda que o impasse em torno de Bolsonaro continue.