Doria usou prefeitura de SP para divulgar parceria com dono da Ultrafarma, preso por propina bilionária

Atualizado em 12 de agosto de 2025 às 18:17
João Doria e Sidney Oliveira, dono da Ultrafarma. Foto: Reprodução

Em 2018, quando era prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) utilizou a estrutura e os canais oficiais da prefeitura para promover a marca Ultrafarma, do empresário e amigo pessoal Sidney Oliveira — hoje preso acusado de envolvimento em esquema de propina bilionária.

A divulgação ocorreu em torno de um projeto batizado de Cidade Verde, que previa o plantio de 600 mil árvores na capital paulista, sendo 150 mil apenas no primeiro ano. O acordo, contudo, nunca foi assinado e acabou abandonado pela empresa.

Apesar da ausência de contrato formal, Doria participou de eventos e gravações ao lado de Sidney, mencionando o nome da Ultrafarma e exibindo a marca em reportagens, programas de TV e até em material publicitário da própria prefeitura. Em alguns casos, mudas usadas nas ações foram fornecidas pelo viveiro municipal Manequinho Lopes — e não pela empresa, que seria a responsável pela doação.

O primeiro evento ocorreu em 6 de maio de 2017, no Parque do Carmo, em Itaquera, com a presença do então secretário do Verde, Gilberto Natalini (PV). Foram plantadas 150 mudas e feita ampla cobertura pela imprensa e pelos canais oficiais do município. O nome da Ultrafarma apareceu em programas como A Tarde É Sua, de Sonia Abrão, e no noticiário da RedeTV!.

Nos meses seguintes, houve novas ações semelhantes, em locais como o Parque do Rodeio (Cidade Tiradentes) e a região da Penha, novamente com mudas cedidas pela prefeitura. As iniciativas geraram divulgação gratuita para a farmacêutica, incluindo um jornal distribuído em 500 mil exemplares com os logotipos da empresa e da administração municipal.

Em outubro de 2017, Doria chegou a afirmar, em vídeo gravado no prédio da prefeitura ao lado de Sidney, que a Ultrafarma havia doado “um milhão de árvores” — declaração feita antes mesmo de qualquer formalização.

Segundo Natalini, a desistência da Ultrafarma teria ocorrido após sua saída da secretaria, em agosto daquele ano, gerando insegurança na empresa. O ex-secretário admitiu que Doria “anunciou antes da hora” e disse que, até então, a farmacêutica vinha oferecendo mão de obra para mutirões.

A gestão de Bruno Covas (PSDB), que sucedeu Doria, confirmou que a parceria não foi implementada por decisão da empresa, embora 3.180 mudas tenham sido plantadas em sistema compartilhado, com fornecimento dos viveiros municipais e manutenção por parceiros privados.

Mesmo sem o convênio, a Ultrafarma continuou usando o nome Cidade Verde em ações de marketing na Grande São Paulo. Perfis em redes sociais mantinham referências à “parceria” com a prefeitura paulistana, apesar de o projeto nunca ter saído do papel nos termos anunciados.

A operação 

O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) realizou uma operação para desarticular um esquema de corrupção envolvendo auditores fiscais tributários da Secretaria de Estado da Fazenda. Ao todo, seis pessoas foram presas.

O advogado Fernando Capez, que representa o empresário Sidney Oliveira, informou que seu cliente firmou há alguns meses um Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) com o MP-SP, no qual reconheceu irregularidades tributárias. O acordo foi homologado pela Justiça, e os valores devidos foram parcelados e estão sendo pagos. Capez disse ainda que, sobre a operação desta terça-feira, aguarda mais informações para entender os motivos da prisão decretada contra seu cliente.

Em nota, a Secretaria da Fazenda e Planejamento declarou que “está à disposição das autoridades e colaborará com os desdobramentos da investigação do Ministério Público por meio da sua Corregedoria da Fiscalização Tributária (Corfisp)”.

A investigação aponta que um auditor fiscal estadual de alto escalão comandava um esquema de fraudes em créditos tributários que, segundo o MP-SP, teria movimentado cerca de R\$ 1 bilhão em propinas desde 2021. Esse servidor também foi preso na operação.