Ibaneis puxa o saco de Trump após críticas a Brasília e culpa Lula em carta; leia

Atualizado em 12 de agosto de 2025 às 14:19
Ibaneis Rocha, governador do DF. Foto: reprodução

O governador bolsonarista do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), enviou uma carta ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, nesta terça-feira (12), após o estadunidense mencionar Brasília em um discurso que decretou o estado de emergência de segurança pública em Washington D.C. Na declaração, que ocorreu na segunda-feira (11), Trump comparou números distorcidos na taxa de homicídios da capital brasileira com a de outras cidades ao redor do mundo, incluindo a de algumas metrópoles dos EUA.

Trump afirmou que Brasília registrava uma taxa de 13 homicídios por 100 mil habitantes, uma cifra significativamente mais alta do que os dados reais divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), que apontam uma taxa de 6,9 homicídios por 100 mil pessoas, quase a metade da estimativa mencionada por Trump.

Em sua carta ao presidente dos EUA, Ibaneis Rocha criticou a informação equivocada e esclareceu os números oficiais de segurança pública no Distrito Federal. Ele também criticou o governo Lula (PT) em busca de atenção do republicano.

O governador destacou que, sob sua gestão, a capital federal alcançou o menor índice de homicídios dos últimos 48 anos, graças a um conjunto de medidas que incluem a contratação de mais de 5 mil servidores para a segurança pública, a duplicação dos pontos de monitoramento eletrônico e outras ações para fortalecer a segurança local.

“Na atual gestão, foi alcançado o menor índice de homicídios dos últimos 48 anos, fruto do investimento na contratação de mais 5 mil servidores de segurança pública, na duplicação dos pontos de monitoramento eletrônico e outras ações”, afirmou o governador na carta.

Além disso, Ibaneis indicou que as informações fornecidas por Trump poderiam ter surgido devido à falta de um “diálogo mais consistente” entre os dois países, apontando a ausência de uma comunicação eficiente como a causa da distorção dos dados. “Esses são informações equivocadas, possivelmente decorrentes da atual ausência de um diálogo mais consistente entre o Brasil e os Estados Unidos da América”, escreveu o governador na correspondência.

A carta também abordou o tema da diplomacia, com Ibaneis reiterando seu compromisso com o diálogo e ressaltando a importância das relações diplomáticas entre as nações.

“Diferentemente do atual governo federal, acredito no diálogo e na força das relações diplomáticas”, afirmou Ibaneis, destacando uma diferença de postura entre sua administração e a do governo de Jair Bolsonaro, que, no passado, adotou uma postura mais agressiva e polarizadora nas relações internacionais.

Leia a carta na íntegra: 

“Brasília, 12 de agosto de 2025

À Sua Excelência

Sr. Donald John Trump
Presidente dos Estados Unidos da América
Washington, D.C. – EUA

Assunto: Segurança Pública no Distrito Federal.

Excelentíssimo Senhor Presidente,

Cumprimentando-o cordialmente, reafirmo o respeito e a admiração pela histórica relação de cooperação e amizade entre o Brasil e os Estados Unidos da América, ciente de que o diálogo transparente e baseado em fatos é o alicerce de qualquer parceria sólida.

Em razão de recentes declarações públicas proferidas por Vossa Excelência, nas quais Brasília foi mencionada de forma comparativa a localidades internacionalmente reconhecidas por elevados índices de violência, é necessário esclarecer, com base em dados oficiais, que tal percepção não reflete a realidade da capital brasileira. São informações equivocadas, possivelmente decorrentes da atual ausência de um diálogo mais consistente entre o Brasil e os Estados Unidos da América.

No modelo federativo brasileiro, cada estado e o Distrito Federal possui autonomia para estruturar e conduzir sua própria política de segurança pública. Nesse contexto, o Governo do Distrito Federal, por mim conduzido, é de centro-direita, em oposição ao atual Governo Federal, de esquerda. Por isto, a segurança pública da capital do Brasil tem por foco resultados concretos, livre de vieses ideológicos. O sucesso obtido decorre da autonomia de Brasília, garantida pela Constituição Federal do Brasil, e da determinação de proteger a população acima de interesses partidários.

A condução da segurança pública no Distrito Federal se alinha, em sua essência, à visão de “lei e ordem”, reforçando que o combate firme ao crime, associado a políticas sociais de alcance real, é o caminho para uma sociedade segura e próspera.

Exemplo disso são as políticas sociais e de segurança integradas que o Governo do Distrito Federal executa de forma independente da União. Entre elas, destaca-se o Plano de Ação para Efetivação da Política Distrital para a População em Situação de Rua, pioneiro no país, elaborado antes mesmo da Política Nacional prevista na Lei nº 14.821/2024. Este plano é intersetorial, garantindo acolhimento, atendimento de saúde, qualificação profissional, acesso a programas habitacionais e alimentação gratuita nos restaurantes comunitários.

A integralidade na segurança pública do Distrito Federal, como implementada pelo Programa Segurança Integral, refere-se à abordagem abrangente que visa a atuação integrada de diversos órgãos e setores para garantir a segurança da população. Essa abordagem envolve a participação da comunidade, através dos Conselhos Comunitários de Segurança (CONSEGs), e a articulação com diferentes áreas do governo, buscando soluções eficazes para os problemas de segurança.

Os CONSEGs são espaços onde a comunidade pode participar ativamente na formulação e discussão de políticas de segurança pública, por meio de reuniões mensais, abertas a todos os cidadãos, fortalecendo o trabalho das forças de segurança e do governo, ampliando a voz da comunidade.

O programa Segurança Integral é estruturado em seis eixos principais:
1. Cidade Mais Segura: Focado em ações de segurança urbana e prevenção da violência.

2. Escola Mais Segura: Busca garantir um ambiente escolar seguro e protegido para alunos e profissionais.

3. Cidadão Mais Seguro: Promove a participação cidadã e a conscientização sobre segurança.

4. Mulher Mais Segura: Desenvolve ações para proteger as mulheres e combater a violência de gênero.

5. Servidor Mais Seguro: Valoriza e protege os profissionais da segurança pública.

6. Campo Mais Seguro: Voltado à proteção da população e da zona rural do Distrito Federal.

Conforme o Atlas da Violência 2024, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Brasília registrou, no ano passado, taxa de 6.9 homicídios para cada 100 mil habitantes, sendo a terceira menor entre todas as capitais de estado do Brasil. Este resultado representa um marco histórico e reflete políticas públicas assertivas, uso intensivo de tecnologia e integração das forças policiais.

Em 2025, ações estruturantes foram ampliadas, das quais se destaca:

1. Lançamento do Programa Acolhe DF (Decreto nº 47.423/2025), para reinserção social de dependentes de álcool e drogas;

2. Inauguração do Hotel Social, garantindo pernoite, alimentação, higiene pessoal e abrigo para pessoas em situação de rua e seus animais de estimação;

3. Benefício financeiro emergencial de R$ 600,00 a pessoas em vulnerabilidade extrema;

4. Encaminhamento de pessoas em situação de rua a programas como o RenovaDF, destinado à capacitação e empregabilidade.

Os números confirmam a efetividade dessa estratégia: o 2º Censo Distrital da População em Situação de Rua (2025) apontou crescimento de 19,8% nessa população em relação a 2022 — índice inferior à média nacional de 25% —, evidenciando que o conjunto de políticas do Distrito Federal mitiga o avanço da vulnerabilidade.

Registre-se que na atual gestão foi alcançado o menor índice de homicídios dos últimos 48 anos, fruto do investimento na contratação de mais 5 mil servidores de segurança pública, na duplicação dos pontos de monitoramento eletrônico e outras ações. A metodologia de gestão da segurança no Distrito Federal é realizada de forma coordenada, contando com a atuação integrada da Polícia Militar, da Polícia Civil, do Corpo de Bombeiros, da Polícia Penal e do Departamento de Trânsito, garantindo respostas rápidas e eficientes às demandas da população.

Além disso, adota o conceito de “segurança integral”, que vai além da repressão ao crime e busca envolver ativamente a sociedade na formulação e no acompanhamento das políticas públicas voltadas à cidadania, fortalecendo o vínculo entre Estado e comunidade e assegurando resultados sustentáveis.

Diferentemente do atual Governo Federal, acredito no diálogo e na força das relações diplomáticas. Tenho, de forma reiterada, afirmado que o Governo Federal deve abandonar disputas ideológicas e adotar uma postura pragmática nas relações internacionais, abrindo canais de negociações produtivas com os Estados Unidos da América. Para este Governo do Distrito Federal, interesses geopolíticos e comerciais devem estar acima de divergências político-partidárias.

Recentemente, inclusive, promovi reunião com governadores de diversos estados brasileiros, com o objetivo de defender a abertura do diálogo direto com o governo norte-americano. Durante o encontro, enfatizou-se a necessidade de redução da tensão entre os dois países e de que haja atuação coordenada com o Congresso Nacional, visando minimizar prejuízos à economia nacional.

Por fim, com respeito, manifesto interesse em fortalecer as pontes políticas e institucionais entre os dois países.
Respeitosamente,

Ibaneis Rocha
Governador do Distrito Federal
República Federativa do Brasil”