Efeito Felca: explode o número de denúncias de exploração sexual infantil

Atualizado em 12 de agosto de 2025 às 22:57
Mão mexendo no celular
Imagem ilustrativa – Reprodução/TV Globo

Canais de denúncia de exploração sexual de crianças e adolescentes registraram um crescimento expressivo nas notificações nos últimos dias. O aumento ocorreu após a divulgação de um vídeo que viralizou nas redes sociais, publicado pelo influenciador Felca, que denunciou a exposição de menores nas plataformas digitais. Com informações do Jornal Nacional, da TV Globo.

Desde o dia 6 de agosto, data da publicação do vídeo, o Disque 100, canal do governo para denúncias de violações de direitos humanos, recebeu mais de mil notificações relacionadas ao tema. A ONG SaferNet, que atua na proteção de direitos na internet, apontou um aumento de 114% nas denúncias de pornografia infantil em redes sociais no mesmo período.

De acordo com dados atualizados, a Polícia Federal prendeu quase 200 pessoas em flagrante neste ano de 2025, acusadas de armazenar, compartilhar ou comercializar material de abuso sexual de menores na internet.

A juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e Juventude do Rio de Janeiro, fez um alerta importante sobre os perigos da superexposição de crianças nas redes sociais: “A internet é a rua, é um lugar público perigoso. Você iria para a rua com um pacote de fotos da sua filha de biquíni, do seu filho sem camisa jogando futebol, da sua filha fazendo balé e sairia distribuindo essas fotos para um estranho que estivesse passando?”.

“Quando a gente pega aqui na Vara da Infância, computadores, celulares e extrai o conteúdo em grupos de pedofilia, em comunidades de abuso sexual infantil, 90% do material que a gente encontra não são imagens explícitas. São fotos e vídeos absolutamente normais, da rotina de uma criança, que qualquer mãe, qualquer pai tira, fotos e vídeos e posta nas suas redes”, completou ela.

Em fevereiro, a SaferNet já havia identificado um aumento de 80% no número de grupos com imagens de exploração infantil no Telegram. Esses canais, segundo a organização, somam 1,4 milhão de usuários, e funcionam sem moderação da plataforma.

“Os números comprovam que há um aumento sistêmico, consistente e persistente do problema e que exige uma resposta à altura por parte dos reguladores”, afirma Thiago Tavares Nunes de Oliveira, presidente da SaferNet.

Em resposta à crise, o governo federal informou que enviará nos próximos dias um projeto de lei ao Congresso Nacional para regular as big techs e responsabilizar empresas pela divulgação de conteúdos criminosos. O tema mobilizou o Senado Federal, onde 70 senadores já assinaram um pedido de abertura de CPI para investigar a atuação de influenciadores e redes sociais.

Na Câmara dos Deputados, já tramitam 35 novos projetos de lei relacionados à proteção de crianças na internet.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, anunciou no domingo (10) que pretende votar propostas para fortalecer a proteção digital de crianças e adolescentes. No entanto, declarou nesta terça-feira (12) que, antes disso, fará um debate em plenário na próxima semana e criará um grupo de trabalho com prazo de 30 dias para consolidar um texto final.

“Existem matérias que são urgentes. E existem matérias que são mais do que urgentes: elas são inadiáveis. Porque uma infância perdida não se recupera. Porque uma criança ferida carrega essa marca para sempre. E nós, como representantes do povo brasileiro, temos a obrigação de garantir que o futuro do Brasil seja protegido onde ele realmente começa: no coração e na mente de cada criança”, afirmou.

Um dos textos prontos para votação na Câmara já foi aprovado no Senado, de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB). Ele defendeu a responsabilização das plataformas digitais:

“Elas têm as ferramentas, então elas sabem perfeitamente se é uma criança ou é um adulto que está usando a ferramenta, elas sabem perfeitamente qual o conteúdo que circula, mas elas se preocupam apenas em extrair dados e rendimento daquilo. Elas não se preocupam com proteção de criança e adolescente”.

A proposta prevê desde multas até a suspensão das atividades de plataformas que descumprirem a lei. As empresas também poderão ser responsabilizadas civil e criminalmente. Em nota oficial, a Sociedade Brasileira de Pediatria declarou apoio à regulamentação e afirmou: “Cada dia sem essa proteção é um dia a mais de risco para milhões de crianças brasileiras”.