Estadão critica rito lento e prevê impunidade a bolsonaristas do motim na Câmara

Atualizado em 13 de agosto de 2025 às 7:44
Hugo Motta reassume cadeira na Câmara após motim bolsonarista. Foto: Reprodução

Em editorial publicado nesta quarta-feira (13), o Estadão criticou o rito mais longo adotado pela Corregedoria da Câmara para analisar as representações contra os deputados bolsonaristas que, na semana passada, invadiram a Mesa Diretora em protesto contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro (PL). O jornal apontou que a demora — que pode empurrar o desfecho para o fim do ano — favorece a impunidade e reforça a falta de controle do presidente da Casa, Hugo Motta:

O motim organizado pela bancada bolsonarista na Câmara caminha a passos largos na direção da impunidade. O corregedor da Casa, deputado Diego Coronel (PSD-BA), confirmou que adotará o rito mais longo para analisar as representações contra os 14 parlamentares que tomaram de assalto a Mesa Diretora e impediram o funcionamento da Câmara na semana passada para protestar contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro e pressionar o Legislativo a pautar projetos para livrar a cara do ex-presidente. (…)

Só depois disso é que os processos voltarão à cúpula da Câmara e, eventualmente, ao Conselho de Ética. Isso empurraria a conclusão dos casos para o fim deste ano, o que sinaliza que a intenção dos deputados é deixar tudo esfriar sem que ninguém seja punido ou, no máximo, escolher um ou outro bode expiatório para levar a culpa em nome de todos os amotinados.

O erro, a bem da verdade, é de origem. Eleito com o apoio de 444 deputados, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), não conseguiu aval de seus colegas na Mesa Diretora para recomendar a suspensão dos amotinados, o que abriu caminho para esse pastiche que a Corregedoria está prestes a encenar. (…)

(…) Que Motta não tem controle do plenário já está muito claro, mas a falta de solidariedade demonstrada por seus colegas na Mesa Diretora depois da humilhação a que ele foi submetido na semana passada diz muito sobre quem realmente dá as cartas na Câmara.

Não fosse assim, a punição a atos inaceitáveis como a baderna na Casa dependeria unicamente do que foi feito, e não de quem os cometeu. Ora, se nem esse tipo de comportamento é alvo de punições exemplares na Câmara, quem será punido daqui em diante? Só os bagrinhos.

É preciso resgatar algum pudor na Câmara, a começar pelo primeiro vice-presidente da Casa, Altineu Côrtes (PL-RJ), que ousou dizer que pautaria o projeto da anistia aos condenados nos eventos do 8 de Janeiro na primeira oportunidade que tivesse para fazê-lo, um enorme desrespeito à figura de Hugo Motta. É esse o recado que os bolsonaristas querem passar à sociedade, e é essa a mensagem que a Câmara enviará se os amotinados se safarem do que fizeram.

O esforço permanente dessa turba tem método: minimizar o significado das ações que cometem para esgarçar os limites da democracia e subir a régua no ato seguinte. Não se sabe o que fará a bancada bolsonarista em sua próxima diligência, mas pode-se ter certeza de que ela ocorrerá e será ainda mais grave que a última. Eis a razão pela qual a punição precisa ser exemplar.