
A pergunta a seguir é uma entre tantas sobre os ataques de Trump ao Brasil: o neofascista americano acredita mesmo que a família Bolsonaro pode segurar a bronca de um caos econômico e político?
Nem o mais fiel assessor de Trump acredita que ele possa levar a sério uma família que falhou ao tentar reeleger seu líder, num fracasso eleitoral inédito no Brasil para quem já estava no poder.
Trump não deve acreditar na força de uma facção que também fracassou na tentativa de golpe. Não pode cometer o engano de achar que um grupo hoje politicamente degradado possa liderar um movimento em nome da bagunça planejada pelos Estados Unidos.
Mas qual é então o sentido da agressão ao Brasil com o pretexto de que defende Bolsonaro? Trump quer desestabilizar e destruir Lula, o STF e as estruturas institucionais da democracia. Projeta uma confusão que inviabilize o que temos hoje, com Lula no poder e o Supremo sustentado pela bravura de Alexandre de Moraes.
Bolsonaro e os filhos são apenas os seus manés para que o plano tenha um pretexto, por mais absurdo que seja. Mesmo que Trump saiba que Bolsonaro não será poupado de julgamento ou anistiado.
Ele sabe que, se pudesse, a velha direita e o novo fascismo já teriam se livrado de Bolsonaro para que a vida deles se reorganize sem o estorvo.
O neofascista deve saber também que uma confusão política aqui nos próximos meses não será garantia alguma da ascensão de alguém da facção ligada a Bolsonaro, nem mesmo Tarcísio de Freitas.
Trump sabe, enquanto mobiliza seus manés, que a grande maioria da população condena seus ataques ao Brasil. E que o povo vê com clareza a conexão das suas ações com os movimentos internos e externos da família Bolsonaro.
Mesmo assim, Trump usa os Bolsonaros como seus manés, como Bolsonaro e os militares usaram manés e patriotas como buchas do 8 de janeiro. Porque essa é a sua aposta.
Mas quem irá segurar as pontas, se o caos for de fato instalado no Brasil? Trump sabe que os militares foram desmoralizados pelo fracasso do golpe. Que foram abandonados por Bolsonaro e têm o desprezo da maioria dos brasileiros.
Se sabe tudo isso, por que insiste na aposta? Porque, a partir da confusão, algo irá acontecer, na linha do imprevisível ou do imponderável, e que esse algo irá favorecê-lo, e não necessariamente pelo fortalecimento dos Bolsonaros.
É assim que funciona a cabeça dos déspotas. Trump aposta na desorganização do governo e da vida dos brasileiros, com a confusão política que irá derivar da confusão econômica, e paga para ver no que isso vai dar.
Não duvidem se, na parte neonazista da cabeça de Trump, num canto do seu plano, estiver a possibilidade de uma intervenção americana no Brasil.
É loucura? Pergunte, não a um estrategista militar, mas a um estudante do primeiro ano de psiquiatria sobre o que Trump pode fazer.
Trump mandou invadir o Capitólio. Impune e eleito pela segunda vez, assumiu e amordaçou a covarde Suprema Corte americana. Mandou que suas polícias persigam imigrantes, mesmo os legalizados. Atirou bombas no Irã. Conversa com Putin e Zelensky e enrola os dois. Alguma coisa, em algum momento, não dará certo.

Se o plano para o Brasil falhar, fará com os Bolsonaros o mesmo que Bolsonaro, os militares e o núcleo duro do golpe fizeram depois do 8 de janeiro: abandona os seus manés.
Enquanto isso, Bolsonaro, os filhos, a gangue do esparadrapo e outros agregados tentam quebrar tudo. Um grupo joga pedras no Supremo, outro tenta incendiar o Congresso e os mais desatinados quebram algum relógio e esfaqueiam obras de arte no Planalto.
Eles sabem que não há saída que não seja a subserviência à imposição do gângster americano. Mas sabem também que, nas rodas de conversa de Trump na Casa Branca, todos são tratados como manés. Prestativos, úteis, mas apenas manés.