
Um levantamento da Folha de S.Paulo em decisões da Justiça do Trabalho revelou que empresas de diferentes estados foram condenadas por assédio eleitoral durante a campanha presidencial de 2022, em apoio a Jair Bolsonaro (PL). As práticas variaram de intimidações e ameaças de demissão a promessas de benefícios como folgas, auxílios e até distribuição de pernil.
A prática, que remete ao chamado “voto de cabresto” da República Velha, foi alvo de dezenas de processos judiciais. A reportagem analisou 30 sentenças recentes em que companhias foram responsabilizadas por pressionar funcionários a apoiar Bolsonaro. Em muitos casos, a conduta incluía coação direta e discursos de que uma eventual vitória de Lula (PT) traria desemprego e fechamento de empresas.
Já no Espírito Santo, a Febracis associou a eleição a uma “guerra espiritual”, dizendo que Bolsonaro era “enviado de Deus” e Lula, o “Diabo”. Em Betim (MG), o Frigorífico Serradão distribuiu camisetas amarelas com o slogan bolsonarista e prometeu pernil para quem comprovasse o voto.
O Ministério Público do Trabalho registrou 3.145 denúncias de assédio eleitoral em 2022, número considerado apenas a “ponta do iceberg” diante do medo de retaliação. A procuradoria firmou 560 termos de ajuste de conduta e moveu 105 ações civis públicas. Entre elas, a da SLC Agrícola (PI), condenada a pagar R$ 100 mil após impor escala de trabalho atípica no segundo turno, impedindo dezenas de funcionários de votarem em um estado onde Lula havia vencido com 74% dos votos no primeiro turno.

Para especialistas, como a professora Eneida Desiree Salgado, da UFPR, ao veículo, o fenômeno evidencia um risco democrático: “Assim como o voto de cabresto na Primeira República, o assédio eleitoral coloca em xeque não só a liberdade individual, mas a lisura do sistema eleitoral como um todo.”