Minidicionário para entender a extrema-direita. Por Lenio Streck

Atualizado em 18 de agosto de 2025 às 8:04
75 anos de '1984′: Conheça 5 pontos-chave para entender o livro de George Orwell - Estadão
O livro “1984”, de George Orwell. Foto: Reprodução

George Orwell escreveu sua principal distopia em 1948, invertendo o ano para dar nome ao clássico “1984”, que trata exatamente do que acontece hoje em dia. Por isso é um clássico.

“1984” usa a novilíngua, um modo de comunicar pelo qual as palavras são usadas de acordo com o regime. Algumas palavras eram criadas por meio da combinação de outras, ou mesmo pela alteração de seus significados.

O Ministério da Guerra é chamado de Ministério da Paz; Ministério da Verdade, que controlava a informação e a história e produzia fake news (existia o gabinete do ódio, com um sujeito chamado Charles Pocket Naro), Ministério da Paz (que promovia a guerra), Ministério do Amor (que praticava a tortura) e Ministério da Fartura (que racionava os alimentos).

Vejamos alguns termos da atualidade, sob o signo da extrema-direita:

Liberdade: nas palavras dos adoradores de pneus e discos voadores, é algo que vale mais do que a vida; liberdade também pode significar “poder chamar ministro do STF de canalha, pregar a tomada do poder pelos militares”; um terceiro sentido de liberdade pode ser “livre para passar a mão no traseiro do guarda ou sentar na mesa do presidente do parlamento ou, ainda, defecar dentro do STF”. Um quarto significado é “às custas do erário brasileiro, conspirar com outro país para trair a sua pátria”.

Democracia: significa poder, em seu nome, exterminá-la; outro sentido é, como pastor, invocar a democracia para, com imunidade tributária, pregar a sua derrubada (dela, da democracia).

Fato: algo que não existe; por exemplo, “contra rede social não existem fatos”.

Mentira: algo que os outros dizem; no hebraico antigo, Navah – dar existência a coisas que não existem.

Patriotismo: algo que se sente, morando no Brasil, pelos Estados Unidos.

Golpe e Estado: segundo o dicionário Oxford Bolsonarus, significa balbúrdia; bagunça de gente que comete loucuras e desvarios.

Bolsonaristas durante atos golpistas do 8 de Janeiro. Foto: Reprodução

Livros: são coisas abomináveis; algo que é odiado por certo tipo de gente que, quando encontra um semelhante que também não lê nada, diz: “você me representa”.

Verdade: palavra feminina que significa “algo que circula nos grupos de WhatsApp”.

Direitos humanos: segundo o filósofo Jair B, trata-se de “esterco para vagabundos”.

Eduardo Bolsonaro: Licença do mandato de deputado termina domingo
Eduardo e Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Prisão domiciliar: segundo o cientista Eduardo B, é o suprassumo da impunidade e é o regime pelo qual o prisioneiro é o seu próprio carcereiro.

Liberdade de religião: é poder ter uma igreja, um canal de TV e comprar até o carro do pastor com isenção de impostos; e o celular também; e a casa do pastor ou do missionário deve ser livre de IPTU; e o pastor deve poder xingar o STF, tudo em nome da liberdade de expressão sob o manto da liberdade de credo. E em nome “do senhor Jesus”.

— Estamos elaborando mais verbetes.