Em meio a tarifaço de Trump, Exército dos EUA faz operação conjunta na caatinga

Atualizado em 18 de agosto de 2025 às 8:28
Exercício militar do Exército brasileiro

Em meio à escalada das tensões comerciais entre Brasil e Estados Unidos, marcada pelo tarifaço anunciado pelo presidente Donald Trump sobre produtos brasileiros, os dois países mantêm ativa a agenda de cooperação militar.

O comandante Militar do Nordeste, general Maurílio Miranda Netto Ribeiro, anunciou em entrevista ao Diário de Pernambuco que, pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, tropas norte-americanas participarão de uma operação combinada em território nordestino.

O exercício está previsto para começar na última semana de outubro e se estenderá até meados de novembro, com base em Petrolina, Jutaí e Lagoa Grande, no Sertão pernambucano.

Serão cerca de 2 mil militares, incluindo aproximadamente 300 soldados dos EUA. O objetivo é o adestramento conjunto em ambiente de caatinga, bioma caracterizado pelo clima árido e vegetação adaptada, que cobre grande parte da área sob jurisdição do Comando Militar do Nordeste.

O general explicou que a operação é parte de um acordo de cooperação firmado em 2020, que prevê alternância entre os dois países para sediar treinamentos. Desde então, ocorreram exercícios no Vale do Paraíba (2021), nos Estados Unidos (2022) e no Amapá (2023).

A operação no Sertão foi planejada ao longo dos últimos dois anos e também terá impacto econômico, já que fornecedores locais apoiarão a logística e a infraestrutura do 72º Batalhão de Infantaria em Petrolina receberá investimentos.

Segundo Ribeiro, além de ampliar a capacidade operacional das Forças Armadas brasileiras, o exercício militar deverá estreitar a cooperação logística e cultural. Atividades paralelas incluirão visitas de militares à usina de Sobradinho e a Petrolina, polo exportador de frutas.

A ação ocorre no mesmo momento em que o governo norte-americano reforça medidas comerciais contra o Brasil, demonstrando que, apesar do tarifaço de Trump, a agenda de defesa segue em curso entre os dois países.

O comandante Militar do Nordeste, general Maurílio Miranda Netto Ribeiro

A operação na caatinga será a primeira oportunidade para que soldados norte-americanos treinem em um ambiente marcado pelo clima árido e pela vegetação típica do bioma, que cobre cerca de 80% da área sob responsabilidade do Comando Militar do Nordeste. O general Maurílio informou que o planejamento do exercício começou há quase dois anos.

Durante a permanência no Brasil, a logística das tropas estrangeiras será apoiada por fornecedores da região, o que deve gerar demanda para empresas do Sertão do São Francisco. Paralelamente, o Exército Brasileiro está realizando investimentos no 72º Batalhão de Infantaria e no campo de instrução em Petrolina, infraestrutura que também serve de apoio a projetos de preservação ambiental e pesquisas conduzidas por universidades, como a Univasf.

De acordo com o general Ribeiro, o exercício fortalece tanto a capacidade de preparo das forças quanto a relação bilateral. Ele afirmou ainda que os militares norte-americanos terão a chance de conhecer aspectos da cultura regional, com programação em Petrolina, polo de exportação de frutas, e visita à usina hidrelétrica de Sobradinho, considerada um marco da infraestrutura energética do Nordeste.

Kiko Nogueira
Diretor do Diário do Centro do Mundo. Jornalista e músico. Foi fundador e diretor de redação da Revista Alfa; editor da Veja São Paulo; diretor de redação da Viagem e Turismo e do Guia Quatro Rodas.