O economista-chefe da Moody’s Analytics, Mark Zandi, disse, em entrevista ao Estadão, que a economia dos Estados Unidos está à beira de uma recessão, com preços subindo e o emprego estagnado — tudo isso em meio ao tarifaço imposto pelo presidente Donald Trump.
Sim, porque mesmo que a inflação vá acelerar, a economia está enfraquecendo, o crescimento do emprego está parando e os riscos de recessão são muito altos. O Fed está dando mais peso à economia e ao seu mandato de pleno emprego do que à inflação por duas razões.
Primeiro, acredita, mais ou menos apropriadamente, que os aumentos tarifários representam um aumento único na inflação, que não será persistente. Não acho que devamos estar excessivamente confiantes sobre isso, mas essa é a visão. E, segundo, os dirigentes do Fed desesperadamente querem evitar uma recessão, no contexto das pressões políticas que enfrentam.
Há muita pressão em relação à independência do Fed e há até um movimento no Congresso para aprovar legislação que mudaria o Federal Reserve Act de 1913, que proporciona essa independência. O Fed estaria sob pressão tremenda, pois tais mudanças legislativas teriam probabilidade maior de ocorrer se a economia entrasse em recessão. (…)
O sr. chegou a dizer recentemente que os EUA estão à beira da recessão. O que o levou a dizer isso?
Por causa dos altos e baixos no comércio, dados os aumentos tarifários, o crescimento na primeira metade do ano foi de pouco mais de 1%, muito fraco. O consumo das famílias ficou estagnado. Manufatura, construção, mineração, agricultura, transporte, distribuição já estão em recessão. Grandes partes da economia já estão se contraindo. E, mais importante, o crescimento do emprego praticamente parou.
Se os números de empregos se tornam negativos, historicamente, isso sempre foi o início da recessão. Portanto, os riscos de recessão são muito altos. Estamos à beira de uma desaceleração forte. Nossa linha de base ainda não prevê uma recessão real, mas vai ser difícil navegar com toda a incerteza pendendo para o negativo.
Apesar da desaceleração do emprego, as demissões seguem baixas. Por quê?
As empresas estão nervosas em demitir, dado o mercado de trabalho apertado. E elas demitiram durante a pandemia e foram pegas de surpresa quando a economia voltou com força e tiveram de aumentar custos trabalhistas para trazer os trabalhadores de volta. Então, estão relutantes em demitir e se encontrarem em uma situação semelhante. O que fizeram, em vez disso, foi congelar contratações. Mas o próximo passo, se houver mais enfraquecimento na demanda do consumidor, é começar a demitir. E, se eles demitirem, isso é recessão. Esse é outro motivo pelo qual é razoável pensar que a economia está à beira de uma recessão. (…)
