Sakamoto: Bife, Trump e Bolsonaro ajudam Lula a sonhar com reeleição

Atualizado em 20 de agosto de 2025 às 11:32

Por Leonardo Sakamoto, no UOL

Após atingir um saldo negativo de 17 pontos entre aprovação e desaprovação, em maio, e ver decretado o seu fim por analistas com entendimento precoce, o governo Lula reduziu a diferença para cinco pontos negativos neste mês, segundo levantamento Genial/Quaest divulgado hoje. Como venho repisando como um papagaio com câimbra neste espaço, a resposta está na economia. Mas não sem um empurrãozinho involuntário de Donald Trump e Eduardo Bolsonaro.

No último mês, a aprovação avançou de 53% para 60% no Nordeste e a desaprovação foi de 44% para 37%. Entre quem ganha até dois salários mínimos, a aprovacão foi de 46% para 55% e a desaprovação de 49% para 40%. O diretor da Quaest, Felipe Nunes, destacou o supermercado como explicação para a melhoria nessas duas categorias.

“Depois de mais de um ano e meio, a parcela de brasileiros que percebe alta no preço dos alimentos caiu para perto de 60%. Esse alívio no bolso impulsionou a popularidade do governo, sobretudo entre os mais pobres”, postou Nunes. Em março, essa taxa era de 88%. Ao mesmo tempo, é a primeira vez desde outubro de 2023 que diminuiu o número de pessoas que acreditam ter um poder de compra menor do que há um ano.

Para se reeleger, Lula precisará entregar picanha e cerveja, mas também arroz e feijão, a um patamar menor do que hoje. Poder de compra é qualidade de vida, e qualidade de vida é voto. Não adianta um PIB grandão se ele proporciona prazer a poucos.

Ajudou na melhora na imagem do governo a forma com a qual ele vem lidando com o ataque de Donald Trump, através do tarifaço de 50% à importação de nossos produtos e das sanções a instituições brasileiras.

Para 48% dos brasileiros, Lula e o PT estão se saindo melhor diante do tarifaço do que Bolsonaro e seus aliados, que ainda mantém surpreendentes 28% – fruto de um Brasil em que a ultrapolarização atropela a realidade. Lula se sai melhor, inclusive, que o governador Tarcísio de Freitas nesse quesito.

Tarcísio de Freitas, governador de SP – Foto: Pablo Jacob/Governo de SP

O principal motivo para as punições apontado pelo próprio Trump é o julgamento de Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado e organização criminosa armada em curso no STF. O norte-americano, que também tentou aplicar golpe semelhante, quer seu aliado livre para tentar outro.

O filho de Jair, Eduardo Bolsonaro, está nos EUA conspirando contra o país e pedindo mais ataques. E isso está sendo percebido pela população, uma vez que 69% apontam que o faltoso deputado federal defende os interesses dele e do seu clã, enquanto 23% (ou seja, o bolsonarismo-raiz) aponta que ele defende os interesses do Brasil.

Suco, celulose, petróleo e aviões, entre outros, acabaram ficando de fora da sanção de Trump, mas café e carne, entre outros, estão sobretaxados em 50%. Parte da produção que não for para os EUA será absorvida por outros países, mas parte pelo mercado interno, o que fará com que o preço desses alimentos, atuais vilões da inflação, abaixem. Pelo menos por um tempo.

E tempo é o que o governo Lula tenta ganhar nos últimos meses após o pico inflacionário da comida ajudar a corroer a popularidade do petista.

Que Trump é um importante anticabo eleitoral já sabemos. Mas Eduardo Bolsonaro, que segue nos EUA pedindo sanções, também vai ajudando indiretamente a melhorar a imagem do adversário de sua família.