Entidade americana diz a Trump que soja do Brasil substituiu a dos EUA na China

Atualizado em 20 de agosto de 2025 às 14:54
Colheita da soja no Brasil. Foto: Reprodução

A principal entidade de produtores de soja dos Estados Unidos, a American Soybean Association (ASA), enviou uma carta ao presidente Donald Trump alertando que a o grão brasileiro tomou o lugar do americano nas compras da China. O documento, assinado pelo presidente da entidade, Caleb Ragland, afirma que a tarifa de retaliação de 20% imposta por Pequim sobre o grão americano deixou a produção mais competitiva.

Na mensagem enviada nesta terça (19), a ASA pede que a Casa Branca priorize o tema nas negociações com a China: “Quanto mais avançarmos sem um acerto sobre soja, piores serão os impactos”, diz o texto. A entidade descreve a situação como um cenário em que produtores estão “à beira de um precipício comercial e financeiro”.

Segundo os agricultores, a China foi responsável, em média, por 61% das importações globais de soja nos últimos cinco anos. No entanto, contratos recentes foram fechados exclusivamente com o Brasil, deixando de lado os embarques dos Estados Unidos.

Tradicionalmente, a soja brasileira abastece o mercado chinês no primeiro semestre, enquanto a americana domina o segundo, mas essa dinâmica foi rompida pela guerra comercial.

“Historicamente, os Estados Unidos eram o fornecedor de preferência dos clientes chineses. No entanto, devido à retaliação tarifária em curso, nossos clientes de longa data na China têm recorrido — e continuarão recorrendo — aos nossos concorrentes na América do Sul”, afirma a carta.

“Infelizmente para nossos produtores, a China contratou com o Brasil para atender às necessidades dos próximos meses, a fim de evitar a compra de qualquer soja dos Estados Unidos”, prossegue.

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Carlos Barria/Reuters

O documento ressalta que a guerra comercial criou uma “desvantagem competitiva” para os americanos e alerta para a gravidade do momento. “A China não adquiriu nenhuma soja dos EUA para os próximos meses, enquanto nos aproximamos rapidamente da colheita. Quanto mais avançarmos no outono sem chegar a um acordo com a China sobre a soja, piores serão os impactos”, diz o texto.

Os produtores também citaram uma recente publicação de Trump no Truth Social, em que ele destacou a robustez da safra americana e pediu que a China “quadruplicasse” as compras de soja dos EUA. A ASA, porém, rebateu dizendo que os compradores do país asiático já asseguraram o abastecimento no Brasil justamente para não pagar o diferencial tarifário.

Além da perda de mercado, a entidade relata um ambiente de margens cada vez mais apertadas para os agricultores. Os preços da soja seguem em queda, enquanto os custos de insumos e equipamentos aumentam. “Os sojicultores dos EUA não podem sobreviver a uma disputa prolongada com o nosso maior cliente”, alerta o documento.

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.